18 de fevereiro: Santa Bernadette Soubirous
O TESTAMENTO DE BERNADETTE
“Pela
miséria de meu pai e pela ruína do moinho no qual moravam e pelos vários fatos
infelizes que se deram em conseqüência, por termos tomado, devido inclusive o
vinho do cansaço, pelas ovelhas doentes, graças vos dou, Senhor.
Pelos
meninos acudidos, pelas ovelhas que tomáveis conta, graças vos dou, Senhor.
Graças, ó meu Deus, pelo... pelo comissário, pelas polícias, pelas duras
palavras de Dom Peyramale.
Por aqueles
dias em que Vós me aparecestes, ó Virgem Maria. Por aqueles dias em que Vós não
aparecestes, eu não vos saberia agradecer de outra maneira a não ser agradecendo-vos
no Paraíso. Mas pelos debiques recebidos, pelas injúrias e pelos ultrajes, por
aqueles que me mandaram prender como doida, pela cólera que tiveram contra mim,
por aqueles que me tomaram como interesseira, graças vos dou, Senhora.
Pela
ortografia que eu jamais consegui aprender, pela memória que eu jamais tive,
pela minha ignorância e por todo o meu... mental, graças vos dou, Senhora.
Graças, graças porque se houvesse sobre a terra uma menina mais ignorante e
mais estúpida do que eu, Vós a teríeis escolhido para aparecer. Por minha mãe,
morta há muito tempo; pelo sofrimento que eu tive quando meu pai, em vez de
abrir os braços à sua pequena Bernadette, me chamou soror Maria Bernard, graças
ó Jesus.
Graças por
ter me dessedentado de amarguras a esse coração por demais tenro que Vós me
destes. Por Madre Josefina que me proclamou ‘boa para nada’...
Pelos
sarcasmos da madre mestra de noviças, pela sua voz dura, pelas injustiças,
pelas ironias, pelo pão da humilhação, muito obrigado. Graças por ter sido Bernadette
ameaçada de prisão porque tinha visto a Virgem Maria, olhada pelas pessoas como
um animal raro, aquela Bernadette tão mesquinha que, ao vê-la, se dizia É tudo
isso?
Por esse
corpo miserável que Vós me destes, por essa doença de fogo e de fumo... pelas
minhas carnes em putrefação, pelos meus ossos com cáries, pelos meus suores,
pela minha febre, pelas minhas dores surdas e agudas, graças ó meu Deus. E por
essa ânsia que Vós me destes para o deserto da aridez interior, pela vossa
noite e pelos vossos relâmpagos, pelos vossos silêncios, mais uma vez, por
tudo, por Vós ausente e presente, graças, ó Jesus".
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