Encontro Vocacional em Belo Horizonte



ESTE TEXTO FOI TRABALHO COM OS VOCACIONADOS NO ÚLTIMO ENCONTRO REALIZADO EM BELO HORIZONTE PELO FREI JULIERME, POR ISSO ESTAMOS DISPONIBILIZANDO-O PARA TODOS OS QUE SÃO ENAMORADOS DO CARISMA CARMELITANO.
APROVEITEM!
PASTORAL VOCACIONAL CARMELITANA.





A ORAÇÃO TERESIANA
Frei Julierme da Redenção, ocd

1 Elementos da oração teresiana

Para Santa Teresa “oração mental não é senão tratar de amizade – estando muitas vezes tratando a sós – com quem sabemos que nos ama” (V 8,5). Entende a oração mental, e mesmo a vocal, como um amoroso relacionamento entre duas pessoas: a humana e a divina.
Desse modo, a santa confere à oração o acento relacional e afetivo. Para ela, o modo de rezar não é o mais importante, mas
o encontro amoroso entre a pessoa e Deus é o que interessa: “Sabei, filhas, que a diferença entre a oração mental e a não-mental não está em ter a boca fechada ou aberta; se, falando, entendo perfeitamente que falo com Deus, concentrando-me mais nisso do que nas palavras que digo, estão juntas aqui a oração mental e a vocal” (C 22,1. grifo nosso).
A pedagogia teresiana, como adiante veremos, traduz-se em pequenos passos ou meios para rezar que, pouco a pouco, vão se reduzindo a um estar com Aquele por quem nos sabemos amados e a Quem queremos amar de coração. O seu conceito de oração mental, desenvolvido nos seus textos (cf. p. ex. C 22; V 8,5), comporta, assim, os seguintes elementos: “iniciemos pensando Naquele com quem vamos falar e em quem é que fala para saber de que modo O haveremos de tratar”. (C 22,3)
a. O locutor: È o homem, que fala com Deus. A pessoa deve colocar-se na presença de Deus estando também presente a si mesma, ou seja, sabendo quem é, e colocando-se com o que é. Na perspectiva teresiana, isso exige uma atitude de autoconhecimento fundamentada na dignidade pessoal do orante.
Está claro que Teresa não tem pressa em falar de oração. Preocupa-a o orante. (…) Quando não há alicerces a edificação vem abaixo. A oração reduz-se a um exercício colado por fora à pessoa, mas nunca da pessoa, se a preocupação pelo ato prevalece sobre a preocupação pela pessoa. Quando isto sucede, a oração não afeta quem a realiza. E, tarde ou cedo, acaba por desprender-se sem que a vida o sinta. É o caso de tantos vocacionados a ser orantes que ficaram simplesmente praticantes de oração. (GARCIA, pp. 169-170).
Na sua mistagogia da oração desenvolvida no caminho do espiritual, assentará três atitudes fundamentais no orante – amor ao próximo, despojamento e humildade – para que este enverede por uma real auto-possessão e liberdade que permitem o aprofundamento da vida contemplativa, como veremos a seguir.
b. O interlocutor: Deus, a quem o homem se dirige. Dele é a iniciativa do diálogo, pois não cessa de atrair o homem, ainda que este tenha um modo “grosseiro” de tratar com Deus (cf. C 22, 4; 26,3). Entra aqui a dimensão do conhecimento de Deus, que se dá através da fé, da meditação e até dos estudos. E, embora tudo isso faça parte de uma busca autêntica que deve ser iniciada, na perspectiva mística o real conhecimento de Deus se dá mediante o relacionamento amoroso significativo com o Mistério desse mesmo Deus, que eclode na vida do orante. Para Teresa, trata-se não de pensar muito sobre Deus, mas de amá-Lo muito. Assim, o relacionamento com Deus ganha um acento fortemente afetivo em detrimento de uma compreensão demasiado intelectualista de Deus. A oração teresiana vai-se traduzindo mais em um tu-a-Tu do que em um relacionamento sujeito-objeto, no qual Deus se torna objeto de nossas especulações intelectuais. Desse modo, quando Teresa exorta ao conhecimento de Deus, fá-lo sempre numa perspectiva mais personalista e afetiva. Assim, a pessoa deve
“procurar entender quem é esse Homem, quem é o seu Pai, que terra é essa para onde há de nos levar e que bens promete nos dar, qual a sua condição, como podemos melhor contenta-lo (…) e que faremos para compatibilizar nosso gênio com o d’Ele”. (C 22, 7).
c. A mensagem: O que digo a Deus. O modo como “haveremos de O tratar”. Não é o elemento mais importante. É preciso concentrar-se mais na presença “do que nas palavras que digo”. Pode ser mental ou vocal. Silenciosa-afetiva ou com palavras conceituais. Para Deus conta mais a humildade com que a pessoa se lhe apresenta do que raciocínios muito elaborados (cf. C 22, 4) o que não justifica “que sejamos irreverentes”, usando de falsa liberdade para com Deus.
Concluímos essa pequena exposição sobre a oração mental teresiana apresentando uma pequena síntese com as próprias palavras da santa: “iniciemos pensando Naquele com quem vamos falar e em quem é que fala para saber de que modo o haveremos de tratar” (C 22, 3). “Eis a oração mental, filhas minhas, entender essas verdades” (C 22, 8).

2 Expressões da oração

Os elementos essenciais da oração teresiana descritos anteriormente, darão acento também às expressões de oração.

2.1 Oração vocal

Como próprio nome já diz, a oração vocal é aquela que recitamos pela fala da voz. “Somos corpo e espírito, e sentimos a necessidade de traduzir exteriormente nossos sentimentos. É preciso rezar com todo o nosso ser para dar à nossa súplica todo o poder possível” (CIC 2702). Em geral, esse tipo de oração refere-se mais à oração tipicamente litúrgica e comunitária (o ofício divino, a missa, etc) ou as orações em fórmula (pai-nosso, ave-maria, credo, glória, etc.) referendadas pelo Magistério eclesial.
Também os textos teresianos remetem-se principalmente a essas formas de oração vocal. Isso porque, no contexto da santa, às mulheres era reservado unicamente esse tipo de oração, sobretudo por causa das controvérsias no campo da espiritualidade que então reinavam e eram alvo da inquisição.
Teresa, porém, seguindo sua intuição espiritual, faz coincidir o propósito da oração vocal com a mental, tomando uma posição apologética em favor desta: “Se vos disserem que deveis rezar vocalmente, verificai se o intelecto e o coração devem estar naquilo que dizeis; se vos disserem que sim (…), vede como confessam que estais obrigadas a ter oração mental.” (C 21, 10). Note-se que para Teresa, rezar as orações vocais como convém, equivale entender o que estamos dizendo e com Quem estamos falando: “porque, quando digo “Creio”, parece-me ser razoável que eu entenda e saiba aquilo em que creio; e quando digo “pai-nosso”, exige o amor que eu compreenda quem é esse Pai nosso e quem é o Mestre que nos ensina essa oração” (C 24,2). Assim, segundo a santa, tanto a oração mental como a vocal são duas expressões de uma mesma atitude em relação a Deus. A respeito disso afirma:
“Tendes razão em afirmar que isso (a oração vocal como ela ensina) já é oração mental. Mas eu vos digo que, na verdade não sei como separá-la da oração vocal, se é que pretendemos rezar vocalmente com perfeição, entendendo com quem falamos. De fato, é nossa obrigação procurar rezar com atenção; e queira Deus que, com esses recursos, o pai-nosso acabe por ser bem rezado e não acabemos em mais uma coisa impertinente. Passei pela experiência algumas vezes, e o melhor remédio que encontro é procurar fixar o pensamento Naquele a quem dirijo as palavras. Por isso, tende paciência e procurai transformar em costume coisa tão necessária.” (C 24, 6)
Assim, além dos dois modos de oração vocal que já mencionamos, Teresa abre também espaço para os colóquios com Deus, ou seja, as orações vocais recitadas pela pessoa de maneira espontânea – que tão frequentemente encontramos compiladas em seus livros, o que nos dá um reflexo da maneira como Teresa tratava com Deus em suas orações –, pois o modo de rezar está subordinado ao relacionamento com Deus. A santa deixa, destarte, uma contribuição para a oração vocal na Igreja: se nesse tipo de oração procuramos associar o corpo à oração interior do coração, a oração vocal pode, com efeito, vir a ser a primeira forma de oração contemplativa. (cf. CIC 2704).

2.1 Meditação

“A meditação é uma busca orante que põe em ação o pensamento, a imaginação, a emoção, o desejo. Tem por finalidade a apropriação crente do assunto meditado, confrontado com a realidade de nossa vida.” (CIC 2723). Ainda explorando o conceito, segundo São João da Cruz a meditação é “o ato discursivo que se utiliza de formas, imagens e figuras oferecidas pelos sentidos.” ( 2 S 13,3). A meditação é, pois, uma busca orante que se realiza especialmente com o ato do raciocínio, valendo-se da imaginação e dos próprios sentimentos, a partir de um determinado tema ou assunto.
Há de se dizer que Teresa não se detém nesse tema em seus escritos. Como ela mesma confessa que não podia meditar (cf. C 17,3), apenas indica ligeiramente alguns proveitos, pelo qual aprova este modo de proceder: “É admirável e muito meritória oração” (6M 7,10). Quem puder ir
“seguindo por um caminho tão bom, será levado pelo Senhor a porto de luz; com tão bons princípios, não menos bom será o fim da jornada. Todos aqueles que puderem seguir essa via hão de encontrar repouso e segurança; porque, estando o intelecto dominado, marcha-se com descanso” (C 19,1).
Assim, em relação à meditação, Teresa diferencia uma pedagogia para os que podem meditar e, de modo especial, para os que não podem meditar, pois esse foi o seu caso.

a. Para os que podem meditar
Como dissemos, Teresa aprova esse modo de orar. Seu interesse, porém, se volta a moderar essa atividade do intelecto a fim de que “não se lhes vá todo o tempo nisso” (V 13,22), pois a essência da oração, “não está em pensar muito, senão em amar muito” (4M 1,7). O entendimento deve, pois, prestar uma ajuda substancial à vontade a fim de desapertá-la e incitá-la ao amor. Uma vez que, pensando e refletindo, se chegou a essa atitude interior e a esse afeto em Deus, já não se faz mais necessário insistir nesse exercício. Em outras palavras, devemos nos valer do entendimento “quando não acendeu na vontade o fogo que fica dito, nem se sente a presença de Deus” (6M 7,9). Em suma, a lógica é muito simples: na pedagogia teresiana é preciso bom senso. Como o entendimento se presta a despertar a vontade a amar, uma vez que esta opera, o entendimento deve deixar de operar discorrendo. Se a vontade e este amor diminuem ou se apagam totalmente, o orante deve voltar a trabalhar com o entendimento a fim de suavemente despertar de novo a vontade, não devendo se encantar nem esperara milagres.
Desse modo, o interesse da santa sobre as pessoas que podem meditar se concentra sobretudo na passagem da meditação para a contemplação, uma oração mais simples e silenciosa em que “não se discorre e em que o silêncio do entendimento se torna mais denso e prolongado” (GARCIA, p. 215). Sobretudo porque, em sua época, passara por dificuldades nesse sentido, por falta de subsídios e pessoas capacitadas intelectual e experimentalmente a tratar sobre o assunto. Mais uma vez, é notável como Teresa conduz o orante à essência da oração que é colocar-se na presença amorosa do Senhor, estar com Ele.Também São João da Cruz se concentra no tema em 2S 13.
Quanto aos temas ou assuntos para a meditação, Teresa remete a livros já existentes que tratam disso: “Para intelectos bem ordenados e almas muito experientes e capazes de se concentra, há tantos livros escritos, e tão bons e de autoria de pessoas tais, que seria erro que fizésseis caso do que digo sobre coisas de oração” (C 19,1). Entretanto, podemos discernir nos seus escritos, dois temas mui caros à santa: o auto-conhecimento e a Paixão do Senhor. Por esses dois temas, vemos como mesmo a meditação ganha relevo relacional, centrado nos dois protagonistas da oração: Deus e o orante.

b. Para os que não podem meditar.
Teresa se detém mais em fornecer meios às pessoas que não podem meditar, especialmente porque foi esse o seu caso e porque sofreu muito com isso devido às incompreensões da parte de seus confessores. Indica às almas dispersas à via mais fácil para se chegar à oração de recolhimento, um tipo de oração que Teresa descobre e que se presta tanto a intelectos distraídos como aos que podem se concentrar na meditação. “Chama-se oração de recolhimento, porque a alma recolhe todas as suas faculdades e entra dentro de si mesma com seu Deus” (C 28,4).
Ao longo dos textos teresianos, podemos verificar a respeito desse tipo de oração alguns meios que ajudam a pessoa a dispor-se à oração e entrar dentro de si para tratar com Deus aí presente. Descrevemos os principais desses elementos a seguir.

c. Ajudas para o ato da oração.
• Começar conscientemente e colocar-se na presença de Deus
“A primeira coisa a fazer é o exame de consciência, bem como a confissão geral e o sinal da cruz” (C 26, 1). Refere-se ao locutor: a pessoa que se põe em oração deve tomar consciência de si, conhecer-se e colocar-se diante de Deus. Teresa exorta o orante a adquirir consciência da presença de Deus em nós, a “olhá-lo dentro de si”, a “lembrar-nos de que temos dentro de nós tal hóspede” (C 28,10). Recomenda, ainda, que essa consciência não se restrinja ao momento de oração, mas que este seja apenas um momento forte de uma vida orante, na qual se procura “(…) mesmo em meio às ocupações cotidianas, retirarmo-nos em nós mesmas. Embora dure um breve momento, a recordação de que tenho companhia dentro de mim é muito proveitosa.” (C 29,5)
Solidão: Um elemento fundamental na pedagogia teresiana é a exigência da solidão para os momentos fortes da oração mental. Nela, se busca estar só a sós com Deus. “Procurai logo, filhas, pois estás sós, ter companhia” (C 26, 1). A companhia é a do Divino Mestre. Colocar-se na presença de Deus.
• Recolher o pensamento: entrar dentro de si.
Acostumar-se a recolher o pensamento é fundamental, sobretudo para quem tem problemas com demasiadas distrações. Teresa não se aprofunda muito em técnicas de concentração. Ao longo da caminhada cada pessoa vai descobrindo a sua. Mas indica alguns meios para isso, os quais preparam o próximo passo:
- “Trazer uma imagem ou retrato desse Senhor” que inspire devoção e “falar com ele muitas vezes”, pois “a falta de hábito é que nos torna estranhas quando falamos com alguém”.
- “Usar um bom livro”, “mesmo para recolher o pensamento e vir a rezar bem vocalmente.” O livro primeiro que o Magistério da Igreja recomenda hoje e que Teresa já se antecipava em recomendar, são as Sagradas Escrituras. Pode-se também utilizar algum livro de espiritualidade, contanto que não se perca de vista o foco que é levar o pensamento a se recolher em atenção a Deus.
- “Contemplar a natureza”. Teresa menciona-o em V 9,5, bem como em outros textos, direta ou indiretamente: “encontrava nessas coisas a lembrança do Criador”.
Com estes recursos “vai-se acostumando, pouco a pouco a alma, com carinhos e artifícios, para não amedronta-la”, a recolher-se. Recolher-se significa sempre uma mudança na orientação de nossos pensamentos, significa educar a atenção. Quando estamos dispersos, a nossa mente está atenta a demasiadas coisas fora de nós. É necessário trazer a nossa atenção a Deus presente em nós como “uma esposa que há muito abandonou o esposo e que, para que deseje voltar para casa, precisamos saber convence-la.” (C 26,10)
• Contemplar (olhar) e falar com o Senhor dentro de si.
Chegamos ao cerne da pedagogia oracional teresiana, pois é aqui que o encontro do orante com Deus se converte em “trato de amizade”. Essa conversa, porém, vai, pouco a pouco, chegar ao extremo da simplificação, conforme viemos discorrendo nessa nossa exposição. Nesse ponto da oração, Teresa insiste sobretudo numa atitude específica.
-Olhar: Refere-se à atenção do orante centrada na Pessoa Divina, uma consciência da presença de Deus em nós. No dizer de S. João da Cruz, “atenção amorosa”, pôr o afeto em Deus. Tal atitude faz com que o orante não se disperse, nem se perca na encenação, nos raciocínios, nas “considerações”, na multiplicidade dos atos. Antes, que chegue o mais depressa possível ao cerne da oração: fazer-se presente ao Presente.
Teresa refere-se também a um outro aspecto desse “olhar”, que exige o aspecto anterior enquanto atitude de fundo. Em seus escritos, costuma usar a expressão “ver com os olhos da alma” (cf. C 26, 3). A acepção desse termo conforme a época da santa, refere-se a um tipo de contemplação que se convencionou chamar “contemplação adquirida”. Exige o aspecto anterior do termo “olhar”, conforme falamos, porque, segundo a perspectiva teresiana, o principal intento desse exercício é justamente despertar o afeto, chegando assim, à essa “contemplação adquirida”, ao simples “olhar” a Deus presente. Assim, a santa convida o orante a valer-se da própria imaginação e fantasia – as quais desconcentram a pessoa – dentro desse momento da oração. Esse processo pode comportar três elementos, que podemos visualizar em C 23, 3-6:
• as imagens: imaginar, “representar dentro de si”, seja algum ponto da vida de Cristo, especialmente a Paixão (que era tão cara à santa), seja a própria Pessoa do Cristo em particular
• os afetos: Convida a faze-lo de acordo com os próprios sentimentos da pessoa, já que Deus “se sujeita” a isso: “Se estais alegres, vede-O ressuscitado”. “Se estais padecendo ou tristes, vede-O a caminho do Horto (…). Ou vede-O atado à coluna”.
• O colóquio: A oração espontânea que a pessoa dirige a Deus, da qual Teresa nos deixa um exemplo: “Ó Senhor do mundo, verdadeiro Esposo meu (podeis dizer-lhe, se o vosso coração se enterneceu por vê-lo assim, levando-vos não só a querer olhar para Ele como também a desejar falar-lhe(…) ).” São expressões que, mais do que palavras ou conceitos bem elaborados, devem brotar da simplicidade do coração do orante, conforme a necessidade, pois, assim, conferem à oração o aspecto de “trato de amizade”.
Em suma podemos dizer que essa atitude de fundo de “olhar” pode abarcar diferentes meios (imagens, afetos, colóquio) para a meta que é “entreter-se” com Deus em nosso íntimo.

2.2 Oração mental

Grosso modo, a oração mental é aquela que fazemos em silêncio, interiormente, durante algum tempo reservado para tal fim. É a expressão de oração mais cara a Teresa, aquela que se torna objeto dos seus escritos, que condensa os elementos essenciais de sua oração. É oração mental torna-se a porta que conduz ao dinamismo da vida mística, relação com o Mistério do Deus-Amor presente em nós. A partir da oração mental, Teresa conhecerá pela experiência e descreverá pela palavra os graus da oração, que segundo os estudiosos são(cf. GARCÍA, P.114): recolhimento infuso, oração de quietude, sono de potências, união plena, desposório, união transformante ou matrimônio espiritual.
Mas, o que é propriamente oração mental? Relembramos a acepção teresiana do termo: “oração mental não é senão tratar de amizade – estando muitas vezes tratando a sós – com quem sabemos que nos ama.” (V 8,5). De certa forma, acabamos por caracterizar a oração mental teresiana quando descrevemos os seus elementos no primeiro item deste trabalho. Resta-nos dizer que, quando o Catecismo trata sobre a oração mental, fá-la coincidir com a própria contemplação, como também o é no caso teresiano: “A oração mental é a expressão simples do mistério da oração. É um olhar de fé fito em Jesus, uma escuta da Palavra de Deus, um silencioso amor. Realiza a união à oração de Cristo na medida em que nos faz participar de seu Mistério.” (CIC 2724). E a contemplação é, na espiritualidade carmelitana, uma oração profundamente interior, acolhida como dom de Deus; uma oração silenciosa, sem ruído de palavras ou conceitos intelectuais. Em suma, uma oração que vai se tornando amor puro a Deus, que conforma nossa vontade à d’Ele, que vai se simplificando a uma atenção amorosa em Deus, um estar presente amando o Deus presente, em adoração, louvor, ação de graças. Requer unicamente a atitude de:
Estar com: ou “querer estar” em “tão boa companhia” como o é a de Deus. Para Teresa, orar é ficar-se com Ele ou estar com Ele. O resto é meramente acidental. Teresa dar-lhe-á ainda um certo acento da nossa parte antepondo-lhe o “querer”: “querer estar”. Acentua a decisão da vontade por causa de um problema presente na consciência de todo orante: o das distrações e aridez.
A oração mental é, pois, encontro profundo do homem com Deus.

REFERÊNCIAS:

CATECISMO da Igreja Católica (CIC). São Paulo: Loyola, 1999.

GARCIA, Maximiliano Herraiz. Oração, história de amizade. Tradução Camelo de Coimbra. Oeiras: Ed. Carmelo, 1983.

TERESA, de Jesus, Santa. Obras completas. Coordenação Patrício Sciadini. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2002.
Para a citação das obras utilizamos o de costume: C- Caminho de Perfeição; V-Livro da Vida (para esses dois livros o primeiro número indica o capítulo, o segundo indica o parágrafo; M – Moradas ou Castelo interior – o número antes de M indica a morada).

ESQUEMA DO TEXTO
1 Elementos da oração teresiana
Parte I – O ato da oração
2 Expressões da oração
2.3 Oração vocal
2.2 Meditação
2.3 Oração mental
Parte II – A vida de oração
3 Exigências para a vida de oração.
- Amor, despojamento e humildade;
- Determinada determinação.
- Comunicação de experiências de oração;
- Orientação espiritual.
4 Dificuldades para a oração
Distrações e aridez.

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