EM TORNO DO RESSUSCITADO



SEGUNDA-FEIRA DE PÁSCOA

O Senhor ressuscitou como havia predito: alegremo-nos todos e exultemos porque reina eternamente (MR)

1. Enquanto refere Marcos somente o medo das mulheres AC anúncio da Ressurreição, completa Mateus, observando que ao temor se uniu "grande alegria e correram a dar a notícia aos discípulos" (28, 8). Impelidas pelo amor, são as mulheres as primeiras a ir, no domingo de madrugada, ao sepulcro; as primeiras a vê-lo aberto e vazio; as primeiras a saber da ressurreição. Todavia, não são as destinatárias exclusivas da grande notícia mas, antes, suas mensageiras. Importante é que a Igreja, constituída pelo núcleo dos discípulos reunidos em torno de Pedro, seja informada: "Ide depressa dizer aos discípulos; 'Ressuscitou dos mortos e eis que vos precede na Galiléia, lá o vereis'" (ibidem, 7). O anúncio do nascimento de Jesus foi levado pêlos anjos aos pastores, e o da ressurreição, pêlos anjos às mulheres. Eis as preferências de Deus: para suas grandes mensagens escolhe os humildes, os simples, "o desprezível, o que nada é para aniquilar os que são, a fim de que ninguém se possa gloriar" (1Cor 1,28). De outra parte, é a Igreja depositária e dispensadora dos mistérios da fé; tudo deve depender dela, ser garantido por sua autoridade, particularmente assistido pelo Espírito Santo.

Enquanto as mulheres vão levar a feliz notícia, "eis que lhes vem ao encontro Jesus, dizendo: 'Salve'" (Mt 28,9), Mais uma vez têm a primazia: antes dos Apóstolos vêem o Mestre ressuscitado, talvez em prêmio da fidelidade com que o seguiram ao Calvário, assistiram ao sepultamento e voltaram depois para prestar homenagem ao seu corpo. Saúda-as Jesus e repete o que Já dissera o anjo: "Não temais, ide anunciar aos meus irmãos que vão à Galiléia, lá me verão" (ibidem, 10). É a primeira vez que Jesus designa diretamente os Apóstolos com o nome de irmãos. Agora que ressuscitou da morte e está para voltar ao Pai, são-lhe eles, mais que nunca, irmãos, pela graça de adoção, fruto do mistério pascal, e pela missão que deverão desenvolver no mundo, continuando a obra do Salvador. Enquanto isto as mulheres, prostradas aos pés do Ressuscitado, abraçam-no; gesto de amor e reverência para com aquele que, apesar de ter elevado os homens à dignidade de irmãos seus, é sempre o seu Deus.

2. Refere Mateus outro particular, isto é, as mesquinhas manobras dos sumos sacerdotes para ocultar a ressurreição do Senhor. Verdadeira fraude à base de dinheiro. Para terem em mãos Jesus haviam oferecido ao traidor poucas moedas; agora, para corromper os guardas do sepulcro, não acham demais empenhar "alta soma de dinheiro" (Mt 28, 12), Embora apegados ao dinheiro, não hesitam os homens em gastá-lo para manter posições iníquas a que não querem renunciar. Os judeus, que não creram, em Jesus vivem e a fazer milagres entre eles, também não crêem na evidência da ressurreição e se fazem propagadores de falsidade. Jesus ressuscitado derrotou o Maligno; este não prevalecerá (Mt 16,18), todavia não cessa de combater a verdade, semeando mentiras, ele que é "mentiroso e pai da mentira" (Jo 8,44). Como então, assim hoje: porque a vitória de Cristo, embora completa em si mesma, não dispensa os discípulos da tentação e da luta. E é sempre verdade que quem resolveu não crer, nem a evidência o faz ceder. Disse-o Jesus; "Senão ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco darão crédito a alguém que ressuscitar dentre os mortos" (Lc 16,31). Absolutamente diversa é a atitude dos discípulos. Em um primeiro momento, transtornados pela grandeza do fato, hesitam em crer na ressurreição, considerada por alguns fantasia de mulheres (Lc 24,11), mas, apurado o fato, tornam-se suas mais ousadas testemunhas. A incredulidade dos judeus, proveniente do orgulho, é incurável, mas a dos discípulos, devida antes à perturbação da mente humana ante o divino, transforma-se logo em fé ardente. Significativo, enfim, é o testemunho do quarto Evangelista, confirmado por Lucas: se alguns duvidaram da mensagem das mulheres, Pedro a tomou logo em consideração e "levantando-se, correu ao sepulcro" (ibidem, 12) e, como João, "viu e creu" (Jo 20,8). No próprio dia de Pentecostes, será justamente Pedro, em nome de todos os discípulos, a testemunhar sem medo a Ressurreição diante dos que haviam condenado Jesus e que ele mesmo tanto temera: "Vós o crucificastes por mãos dos ímpios, e o matastes; mas Deus o ressuscitou, livrando-o dos laços da morte" (At 2,23-24). Quem tem o coração humilde e reto, mesmo atravessando horas de dúvida, chega sempre à verdade que Deus não cessa de oferecer a todos os homens.

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