“Buscando meus amores, irei por estes montes e ribeiras;
Não colherei as flores, nem temerei as feras,
E passarei os fortes e fronteiras”.
(S. João da Cruz, Cântico 3)
Paz e Cristo Jesus!
Faço votos que esta os encontre bem ao retomar as atividades depois das férias (para quem as teve). Já tivemos neste ano a alegria da Ordenação sacerdotal de fr. Cleber, dia 1º deste em Praia Grande- SP, onde os religiosos estudantes realizaram um tríduo pastoral após o encontro de Londrina e fomos muito bem acolhidos pela comunidade paroquial e os padres Estigmatinos. Também usufruímos do passeio da Província em Mongaguá, na casa das Irmãs Azuis, a quem agradecemos; nossa gratidão aos Fr. Patrício, Rubens, Pierino e Antonio, pela organização do mesmo.
Agora é necessário ir seguindo o ano com o devido cuidado de planejá-lo e viver os ritmos da oração, eucaristia diária, retiros mensais, reuniões comunitárias, empenhos pastorais, etc.
No próximo dia 25 de fevereiro iniciaremos mais um tempo do Ano litúrgico em preparação às festas pascais. Nele somos convidados a entrar no “deserto” e intensificar a escuta da Palavra, cuja “força cicatrizante ... é um apelo poderoso a uma constante conversão pessoal à escuta e um incentivo para um anúncio corajoso da reconciliação oferecida pelo Pai em Cristo (cf. 2 Cor 5, 20-21)” (Sínodo 2008, prop. 8). Como religiosos, o aprofundamento da vivencia batismal e da consagração religiosa fazem parte do compromisso de viver “a perfeição da caridade” (fórmula da profissão) “ao passo da alma” (S. João da Cruz, C 23, 6). Liturgicamente, estes compromissos que renovaremos na Vigília Pascal, são um convite ao seguimento de Jesus Cristo de forma cada vez mais radical e profunda a cada ano que passa. Por isso, viver este tempo litúrgico de maneira nova e dinâmica, fazendo frente aos desafios do secularismo, comodismo ou outros ídolos pessoais e comunitários, significa ir experimentando a força do Ressuscitado em nossa luta cotidiana de morte ao homem velho para dar lugar ao Homem novo.
Neste caminho de ascese quaresmal, olhando para os ensinamentos da santa Madre Teresa, ela inculca com firmeza e convicção a meta: “viestes para morrer por Cristo, e não para viver ao bel-prazer por Ele” (C 10,5). Para ela a busca das virtudes, particularmente o amor fraterno, o desapego e a humildade e outras virtudes são mais importante do que praticar “penitências excessivas, que, se forem feitas sem discernimento podem prejudicar a saúde” (Caminho 15,3). São João da Cruz, por sua vez, fala-nos sobre a necessidade de “mortificar os apetites, se quiser progredir na virtude”, pois as “penitências extraordinárias” não produzem o efeito desejado, se não se tirar o afeto do apetite desordenado (cf. 1 S 8,1-4). Para ele, o que é mais necessário é o seguimento radical a Cristo, porta e caminho (II S 7).
Já o papa Bento XVI, em sua mensagem para a Quaresma deste ano lembra-nos a prática do jejum. “Nos nossos dias, a prática do jejum parece ter perdido um pouco do seu valor espiritual e ter adquirido antes, numa cultura marcada pela busca da satisfação material, o valor de uma medida terapêutica para a cura do próprio corpo. Jejuar sem dúvida é bom para o bem-estar, mas para os que creem é em primeiro lugar uma «terapia» para curar tudo o que os impede de se conformarem com a vontade de Deus. ... A Quaresma poderia ser uma ocasião oportuna para ... valorizar o significado autêntico e perene desta antiga prática penitencial, que pode ajudar-nos a mortificar o nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo, primeiro e máximo mandamento da nova Lei e compêndio de todo o Evangelho (cf. Mt 22, 34-40).”
Nossas Constituições (42-46) e Normas Aplicativas (7, 9, 123...) nos recordam, especialmente nestes tempos fortes do Ano Litúrgico, algumas práticas a serem vividas em nossas comunidades, unidas a celebrações penitenciais. São manifestação em comunidade da abnegação evangélica, sempre necessária e que levam ao fortalecimento interior.
Exorto, pois a cada comunidade para que escolha a forma de praticar gestos penitenciais comunitários e de solidariedade com os mais pobres. Tais gestos devem produzir frutos que redundem em um “gesto concreto”, como nos pede a Igreja no Brasil, a ser oferecido no Domingo de Ramos.
Assim, que este tempo de Quaresma seja vivido de maneira profunda como busca sincera de conversão e de fé no Evangelho e manifestada em atos concretos, de maneira que renove a vida espiritual pessoal e comunitária. Que ajude também a descobrir e a combater os ídolos que nos refreiam na busca de Deus, no amor fraterno e num compromisso mais generoso com o anúncio do Evangelho do Reino e na doação de si, rumo à Páscoa definitiva!
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