Número de
monjas enclausuradas no país é o maior desde o século 18
JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO
DE RIBEIRÃO PRETO
Folha de São Paulo de 23 de dez. 2012
Os olhos verdes de Laura, 27, brilham,
e o rosto se abre em um largo sorriso ao relembrar seus 12 anos, quando viu
pela primeira vez aquelas mulheres através de grades.
"O primeiro impacto foi sentir a alegria delas atrás de uma grade", diz. "Decidi que queria viver também aquela mesma alegria."
"O primeiro impacto foi sentir a alegria delas atrás de uma grade", diz. "Decidi que queria viver também aquela mesma alegria."
Aos 15, chegou a pedir ao bispo
autorização para se juntar a elas antes do tempo, mas só aos 18 entrou em um
mosteiro em Franca.
Em pleno século 21, Laura e outras
mulheres monjas enclausuradas são parte de uma realidade cada vez mais
crescente no país. Elas vivem em uma cela, atrás das grades, longe de parentes
e amigos, sem acesso a TV e jornal.
Monja do Carmelo de Franca/SP - no Locutório |
Desde o século 18 --quando a Igreja
Católica tinha enorme projeção social no mundo--, nunca a Ordem das Carmelitas
Descalças, à qual pertence Laura, teve tantas mulheres "atrás das
grades" como agora.
Uma das maiores do país, a ordem, que
se instalou no Brasil naqueles anos 1700, tem hoje cerca de mil monjas. Dez
anos atrás, eram 700.
Entre as religiosas clarissas, outra
ordem no país, são hoje cerca de 300 mulheres, em 30 mosteiros. Em 1955, eram
59 monjas e três casas.
Também as passionistas,
concepcionistas, visitandinas, trapistas e adoradoras estão entre as poucas nas
quais mulheres vivem a forma mais radical de isolamento: a chamada clausura
papal ou de vida contemplativa.
Ao contrário de freiras que atuam em
hospitais e orfanatos, essas religiosas vivem reservadas. "As grades não
são para elas não saírem, mas sim para ninguém entrar", diz frei Geraldo
Afonso de Santa Teresinha, 52, das carmelitas.
O pouco contato com o mundo ocorre nas
missas. As monjas as assistem em um canto, isoladas por grade. Há ainda o
locutório, sala onde as pessoas, por uma tela, podem pedir orações às monjas.
Sair do mosteiro só em caso extremo,
para ir ao médico ou ver os pais, quando estão muito doentes. Ainda hoje novos
mosteiros femininos são criados, como o das adoradoras perpétuas, em 2009, e o
das trapistas, em 2010.
Monjas do Carmelo de Franca/SP no Coro |
HOMENS
Entre os homens, a clausura radical é
menor - no Brasil, só com os monges trapistas e cartuxos. A casa dos trapistas
no Paraná foi criada em 1977, com quatro monges americanos. Hoje são 20.
Representantes das ordens são unânimes
ao explicar a razão de, no século 21, tantos jovens adotarem esse modo de vida.
"O mundo oferece muito, mas coisas passageiras. A clausura oferece algo
duradouro, que preenche o vazio", disse Maria Lúcia de Jesus, das irmãs
visitandinas.
Monjas do Carmelo de Franca/SP recebendo a Comunhão |
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