Natividade de Nossa Senhora - 08 de setembro


Vossa Natividade, ó Maria, foi aurora e esperança de salvação para o mundo inteiro [Depois da Comunhão]

"Celebremos com alegria a Natividade da bem-aventurada Virgem Maria. De vós, ó Maria, surgiu o Sol de justiça, Cristo, nosso Deus" (Entrada da Missa). Prelúdio do Natal de Jesus é o nascimento de Maria, porque com o aparecimento de Nossa Senhora neste mundo começa a realização do plano de Deus, isto é, a Encarnação do Verbo. Na Virgem de Nazaré, o Altíssimo prepara-lhe a Mãe. A Mãe preanuncia o Filho, diz que ele está para vir: estão para se tornar história as antigas promessas de salvação da humanidade. Aqui está toda a grandeza de Maria; é a criatura por Deus escolhida para mãe de seu Unigênito, Preconizou-a Miquéias como "aquela que há de dar à luz" (5,2), designando o tempo de seu parto como o início de nova era quando de "Belém de Éfrata... virá quem está destinado a reinar em Israel" (ibidem, l). Em Belém, ao nascer Jesus da Virgem Maria, inicia-se a era da salvação messiânica.
Portanto, a Natividade de Maria é a aurora da Redenção. O nascimento de Nossa Senhora projetará nova luz sobre toda a humanidade; luz de inocência, de pureza, de graça, aurora do grande Sol que iluminará, que inundará a terra quando parecer Jesus, "Luz do mundo".
Nossa Senhora foi preservada do pecado e cheia de graça em vista dos méritos de Cristo. Assim não só anuncia a Redenção próxima, como também traz em si as primícias dela, como primeira remida de seu divino Filho. Primeira flor desabrochada antecipadamente do mistério pascal de Jesus foi a Imaculada Conceição de Maria, flor que alegrará o mundo e atrairá as complacências do
Altíssimo.
Depois do Natal de Jesus, nenhum outro nascimento foi tão importante aos olhos de Deus e tão precioso para o bem da humanidade quanto o de Maria. Entretanto, tal evento permanece na sombra. Ninguém o registrou, nada falam dele as Sagradas Escrituras, No silêncio desaparecem as origens de Nossa Senhora, assim como no silêncio desapareceu toda a sua vida. A Natividade de Maria é grandioso acontecimento envolto em profunda humildade. Quanto mais quisermos crescer aos olhos de Deus, tanto mais humildes, pequenos havemos de ser, e tanto mais nos ocultar aos nossos olhos e aos dos outros!
A primeira vez em que aparece Maria no Evangelho de Mateus é no fim da genealogia de Jesus: "Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo" (1,16). Em Lucas, aparece pela primeira vez no relato da Anunciação do Senhor. Em Marcos e João, só mais tarde, durante o ministério público de Filho. Em todo caso, Maria só entra no Evangelho em vista de Jesus, como Mãe do Salvador. Embora se note a presença de Maria em muitas páginas dos Evangelhos, mormente de Lucas, é tão discreta e velada a ponto de desaparecer na do Filho, Perde-se e desaparece a vida de Maria na de Jesus, Ela viveu verdadeiramente oculta com Cristo em Deus. Viveu na sombra não só durante a infância, mas também depois, quando Mãe de Deus, até nos momentos de triunfo do Filho e até quando certa mulher, entusiasmada com a pregação de Jesus, ergueu a voz em meio à multidão gritando: "Feliz o seio que te trouxe!" (Lc 11,27).
A festa mariana celebrada hoje pela Liturgia é, pois, convite à vida oculta com Maria em Cristo, e com Cristo em Deus. Feliz quem Deus conduz através das circunstâncias, pelo caminho da humildade, da simplicidade, longe de tudo que brilha aos olhos humanos! Só tem de aderir ao plano divino, para entrar nas fileiras dos pobres de espírito a quem o reino dos céus foi prometido. Mas também os que se empenham, por dever, em grandes responsabilidades e estão colocados em evidência, por ofício, na sociedade ou na Igreja, são chamados a imitar a atitude de Maria. Cumpre aprendermos dela a agir de modo a poder servir aos irmãos sem alarde, sem nos fazer valer, sem nos arrogar direitos a privilégios, antes buscando eclipsar-nos, sobretudo quando já não é necessária nossa atividade. Quem aspira imitar Nossa Senhora há de ter ânsia de ocultar-se à sombra de Deus, convicto de que, se lhe foi concedido fazer alguma obra, foi dom divino e deve em proveito do bem comum e da glória do Altíssimo.


Frei Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD.

Da obra intitulada, Intimidade Divina, ed. Loyola

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