Fr. Patrício homenageia as mulheres lembrando das mulheres da sua vida Por ocasião do dia internacional da mulher




Não conheci meu pai. Ele foi vítima da guerra e morreu aos 12 de julho de 1944. Nada de mais insano que a guerra. Em sua irracionalidade, alimenta o desejo de grandeza e de orgulho de poucos políticos, pagando o duro preço com vidas humanas que vão à guerra e morrem sem saber por que. Na morte de meu pai, minha mãe Domênica estava grávida de mim. Ela me educou com amor e com carinho e, na sua pobreza, soube dar-me princípios de respeito e de amor para com todas as pessoas. Nunca fez pesar sobre mim a falta de pai, mas, com a ternura feminina que possuía, introduziu-me na vida. Dela aprendi muitas coisas e uma das mais importantes foi respeitar as mulheres e ter para com elas uma veneração muito grande. Nas mulheres, sempre vi espelhada a grandeza de coração e a força educativa - não com as palavras, mas com a vida.
Em minha mãe, quero prestar a minha homenagem a todas as mulheres mães que lutam para educar os próprios filhos. As viúvas que, vendo-se privadas da presença do marido, sabem viver com dignidade a própria viuvez na fidelidade ao amado que lhes foi arrancado com a morte. Recordo minha mãe dizer que nunca se casaria de novo porque o amor prometido a meu pai foi para sempre.
Na vida religiosa, tive a alegria de escolher uma Ordem, o Carmelo, onde as mulheres sempre tiveram uma projeção toda especial e foram grandes educadoras. Mulheres que, pela própria santidade e humanidade, souberam viver uma missão especial. No Carmelo nunca faltou o feminino que dá a todos os carmelitas descalços um toque todo particular. Conviver com uma espiritualidade dirigida por mulheres não somente é um fato acidental, mas algo de mais profundo e essencial.
Nunca poderei esquecer o meu primeiro encontro com Santa Teresa de Ávila. Nela, vi o reflexo do amor de Deus e o amor de minha mãe Domênica. Teresa cativou-me imediatamente, não tanto pela sua inteligência, nem pela sua experiência mística da qual nada sabia, mas pela sua humanidade, pela sua simpatia. Eu a considerava uma mulher bonita, atraente, delicada. Uma mulher que sabia, com fino humor, vencer todas as barreiras. À medida que fui lendo seus escritos, encontrei-me seduzido por ela e fiz dela minha mãe, mestra e mistagoga nos caminhos do Espírito. Ela revela toda a profundidade do coração feminino, sabe tratar de Deus com extrema simplicidade e aplica aos mistérios do amor eterno o amor humano. Como é bonito quando ela diz que não encontrou nenhum exemplo para falar do matrimônio espiritual a não ser o matrimônio humano. "...Deu-me sua mão direita e disse-me: 'olha este cravo, é sinal que serás minha esposa desde hoje... daqui por diante não só como Criador e como Rei e teu Deus olharás a minha honra, mas como verdadeira esposa minha'."
Como costuma chamar a Jesus "meu Esposo"! E trata-o com tanta ternura e bondade... "Vós bem sabeis, Bem meu, que, se tenho algum bem, ele não me é dado por outras mãos senão pelas Vossas... sois o Bem que supera todos os bens... Ó meu Senhor e meu Esposo, já é hora de nos vermos!"
Em Teresa de Ávila quero prestar a minha sincera homenagem a todas as mulheres que no dia-a-dia lutam na experiência mística e que nos ensinam a rezar com o nosso coração humano. A todas as teólogas que, com força e quase "violência", conquistam o próprio espaço na teologia, na mística, na Igreja, na sociedade.
Em Santa Teresinha do Menino Jesus, Elisabeth da Trindade, Teresa de los Andes, encontrei irmãs me que fizeram compreender que a mulher jamais pode ser "objeto", mas uma companheira fiel na vida com quem tecemos, quer sejamos casados ou celibatários, um relacionamento de amor.
A maior alegria é quando sabemos olhar nos olhos de uma mulher contemplando nela a beleza do Deus criador. Jesus deu-nos a medida da nossa pureza e de como devemos ver as mulheres. "Quem olhar uma mulher desejando-a já cometeu adultério" (Mt 5,28). E a mulher que olhou para o homem desejando-o já cometeu adultério. Sabemos em que consiste esse desejo. É o desejo da paixão não purificada, do amor sensual e sexual não visto como caminho de complementaridade e de sentido profundo da vida.
Nenhuma mulher poderá viver sem a presença do homem e nenhum homem sem a presença da mulher. Deus os fez homem e mulher para se ajudarem mutuamente.
Assim como a mulher humaniza o homem e educa-o para a sensibilidade e ternura, também o homem ajuda a mulher a ser mais objetiva na vida e na forma de se expressar. Ele pode educá-la a uma purificação de sentimentalismos exagerados, pode levá-la a uma profundidade e agudeza maior de pensamento e à busca do essencial. Num relacionamento de verdadeiro companheirismo entre o homem e a mulher, nota-se também como geralmente o homem transmite à mulher um sentido de segurança e de coragem, enquanto esta sabe ficar no anonimato para ceder consciente e livremente o lugar de destaque a ele. É próprio na mulher uma certa capacidade para a oblatividade.
A nova fecundidade e maternidade que devemos buscar é gerar ao nosso redor o verdadeiro amor. Um amor que constrói e que nos torna capazes de doar a nossa vida.
Nestas santas do Carmelo quero prestar a minha homenagem a todas as jovens que buscam na vida consagrada não uma fuga, mas a plenitude, a dedicação sem limites, e assumem, desde a própria consagração, todos os sofrimentos da humanidade.
Patrício Sciadini, ocd

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