Edith Stein
“E o Verbo se fez carne”. Isto se tornou realidade no estábulo de Belém. Mas cumpriu-se ainda de outra maneira. “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, este terá a vida eterna”. O Salvador que sabe que somos e permanecemos humanos, tendo que lutar dia após dia, com fraquezas, vem em auxílio da nossa humanidade de maneira verdadeiramente divina. Assim como o corpo terrestre precisa do pão cotidiano, assim também a vida divina em nós precisa ser alimentada constantemente. “Este é o pão vivo que desceu do céu”. Quem come deste pão todos os dias, neste se realizará, diariamente, o mistério do Natal, a Encarnação do Verbo. E este, certamente, é o caminho mais seguro, para se tornar “um com Deus” e de penetrar dia a dia de maneira mais firme e mais profunda no Corpo Místico de Cristo. Eu sei que para muitos pode parecer um desejo por demais radical. Para a maioria, isto significa, começar de novo, uma reorganização de toda a vida interna e externa. Mas deve ser assim! Na nossa vida deve se criar espaço para o Cristo eucarístico, para que Ele possa transformar a nossa vida na sua vida: será que é exigir demais? A gente tem tempo para tantas coisas fúteis, tantas coisas inúteis: ler livros, revistas, jornais, freqüentar restaurantes, conversar na rua 15 ou 30 minutos, tudo isto são “dispersões”, onde esbanjamos tempo e força. Não se poderá reservar uma hora pela manhã, para se concentrar, e ganhar força, para enfrentar o resto do dia? Mas, na verdade, é necessário mais que uma hora. Devemos viver de tal maneira, que uma hora se suceda à outra e estas, prepararem as que vierem. Assim, não será mais possível “deixar-se levar” mesmo temporariamente pelo afã do dia. Com quem se vive diariamente, não se pode desconsiderar o seu julgamento. Mesmo sem dizer palavras, percebemos como os outros nos consideram. Tentamos nos adaptar conforme o ambiente e, se não conseguimos, a convivência se torna um tormento. Assim também acontece na comunicação diária com o Senhor. Tornamo-nos cada vez mais sensíveis àquilo que Lhe agrada ou desagrada. Se antes, estávamos mais ou menos contentes com nós mesmos, agora isto se torna diferente. E descobriremos em nós muita coisa que precisa ser melhorada e outras que às vezes, são quase impossíveis de serem mudadas.
Assim nos tornaremos pequenos, humildes, pacientes e condescendentes com o “cisco no olho de nosso próximo”, pois a “trave” no nosso olho nos incomoda. Finalmente, aprenderemos a aceitar-nos tal qual somos à luz da presença divina e a nos entregar à divina misericórdia, que poderá vencer tudo aquilo que está além de nossas forças. (Trecho do capítulo IV do livro "O MISTÉRIO DO NATAL" de Edith Stein).