ADVENTO,
NO CARMELO...

A espiritualidade do Carmelo é a espiritualidade da união com Deus, da busca da interioridade que aqui ele nos oferece como prelúdio da vida futura.
Vivendo este tempo tão marcante somos chamados a intensificar essa busca, como tão bem nos descreve a Beata Elisabete da Trindade: “o santo tempo do Advento é o tempo das almas interiores, daquelas que vivem sempre e em tudo “escondidas em Deus com Cristo” (Cl 3,3).


«O que deveria passar-se na alma da Virgem,
quando, depois da Encarnação,
já possui em si o Verbo Encarnado,
o Dom de Deus?…
Com que silêncio,
em que recolhimento
e adoração
se devia sepultar no fundo da sua alma,
para estreitar a si esse Deus
de que era Mãe. Ele está em nós.
Oh! mantenhamo-nos bem perto d’Ele,
nesse silêncio,
com esse amor da Virgem;
é assim que vamos passar o Advento, não é?»


B. Isabel da Trindade, Carta 183
FUNDAÇÃO DOS FRADES CARMELITAS DESCALÇOS

 28 de novembro de 1568
Início da Reforma de Santa Teresa entre os Frades.

Em finais de Setembro de 1568 parte Frei João para fundar em Duruelo, o primeiro convento do Carmelo Descalço. Leva consigo seus sonhos, o desejo de uma entrega radical a Deus, um hábito novo que Santa Teresa costurou com as próprias mãos.
Duruelo é um lugar pobre, distante de tudo, perdido. Na verdade, não era mais que um barracão para guardar as alfaias dos ceifadores e onde estes mesmos se recolhiam durante o tempo das colheitas. No Verão anterior a Madre visitou a casinha que lhe tinham oferecido para convento, e as suas companheiras tiveram por loucos os que dali fizessem convento para viver. Estava tudo tão sujo e imundo que, apesar do entardecer, ninguém ali quis dormir. Ouçamos as suas palavras: «Saímos de manhã para Duruelo, mas como não sabíamos o caminho perdemo-nos. E, sendo o lugar pouco conhecido, ninguém sabia dar indicações precisas.
Quando entramos na casa, estava de tal maneira que não nos atrevemos a ficar ali naquela noite. Tinha um portal razoável, uma sala, um sótão e uma pequena cozinha. Pensei que do portal podia fazer-se a igreja, o sótão servia bem para o coro e a sala para dormir.
As minhas companheiras diziam-me: «Madre, não há com certeza, homem, por santo que seja, que resista a viver nesta casa».
Mas frei João da Cruz concordava com a pobreza da casa para convento. Combinamos, pois, que o padre frei João da Cruz fosse acomodar a casa para poderem entrar. Tardou pouco o arranjo da casa, porque ainda que se quisesse fazer muito, não havia dinheiro.
No primeiro domingo do Advento deste ano de 1568 celebrou-se a primeira Missa naquele pequeno portal de Belém. Chamo-lhe assim, porque não creio que fosse melhor que o presépio.
Os quartos tinham feno por cama, porque o lugar era muito frio, e, pedras por cabeceira. Muitas vezes, depois de rezarem levavam muita neve nos hábitos que neles caía pelos buracos do telhado.
Iam pregar a muitos lugares próximos dali, o que me deixou muito contente. Iam descalços e com muita neve e frio, porque no princípio, não usavam calçado, como mais tarde lhes mandaram.
Em tão pouco tempo, alcançaram tanta estima das pessoas, que nunca lhes faltava alimentos, pois traziam-lhes mais do que o necessário. Isto foi para mim grande consolo, quando o soube.

Praza ao Senhor fazê-los perseverar no caminho que agora começaram.» (Livro das Fundações 13 2-3)