A Igreja venera as Sagradas Escrituras







Da Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II
§ 21

 A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo. Sempre as considerou, e continua a considerar, juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé; elas, com efeito, inspiradas como são por Deus, e exaradas por escrito duma vez para sempre, continuam a dar-nos imutàvelmente a palavra do próprio Deus, e fazem ouvir a voz do Espírito Santo através das palavras dos profetas e dos Apóstolos. É preciso, pois, que toda a pregação eclesiástica, assim como a própria religião cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada Escritura. Com efeito, nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de Seus filhos, a conversar com eles; e é tão grande a força e a virtude da palavra de Deus que se torna o apoio vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual. Por isso se devem aplicar por excelência à Sagrada Escritura as palavras: «A palavra de Deus é viva e eficaz» (Hebr. 4,12), «capaz de edificar e dar a herança a todos os santificados», (Act. 20,32; cfr. 1 Tess. 2,13).

EDITH STEIN: SANTA E FILÓSOFA PARA SÉCULO 21



Entrevista ao filósofo Rodrigo Guerra

Por Jaime Septién
QUERÉTARO, segunda-feira, 16 de agosto de 2010 (ZENIT.org - El Observador) - No dia 19 de agosto de 1942, Edith Stein - Santa Benedita da Cruz - morreu na câmara de gás do campo de concentração de Auschwitz. Em 11 de outubro de 1998, foi canonizada por João Paulo II no Vaticano.
ZENIT-El Observador entrevistaram Rodrigo Guerra López, doutor em Filosofia pela Academia Internacional de Liechtenstein, membro da Academia Pontifícia para a Vida, diretor do CISAV (www.cisav.org), e especialista em fenomenologia e personalismo, sobre a atualidade do testemunho e do pensamento desta importante filósofa, mística, carmelita e mártir.
ZENIT: Que importância tem uma figura como a de Edith Stein no momento atual?
Rodrigo Guerra: Edith Stein é relevante para a nossa época principalmente porque é uma santa. Com sua vida e sua morte, ela mostrou que é possível viver com radicalidade a adesão a Jesus Cristo e o amor aos seus irmãos em meio a um mundo que parece cair no absurdo, na irracionalidade e na violência.
ZENIT: Edith Stein é santa, mas também foi uma grande intelectual...
Rodrigo Guerra: O itinerário de Edith Stein rumo à santidade não se encontra à margem do seu perfil intelectual. Ao contrário, toda a sua imensa contribuição filosófica é parte de sua vida e de uma maneira misteriosa também é parte de sua preparação para o martírio. Mártir significa testemunha. Edith Stein buscou ser testemunha da verdade ao amar apaixonadamente o trabalho intelectual que exerceu em parte acompanhada por seu professor Edmund Husserl e por outros brilhantes filósofos, como Adolf Reinach, Roman Ingarden e Hedwig Conrad-Martius.
Da mesma forma, ela procurou ser testemunha da verdade no momento de aderir afetiva e efetivamente a Jesus Cristo crucificado, ao ser chamada ao Carmelo e, finalmente, ao morrer em Auschwitz nas mãos dos nazistas. Todo este caminho parece indicar que a vocação mais profunda do filósofo cristão não termina ao escrever livros e fazer carreira acadêmica, mas principalmente educando o coração em uma disponibilidade particular para seguir a verdade até a cruz.
ZENIT: O pensamento de Edith Stein é pertinente para os que vivem na primeira década do século 21?
Rodrigo Guerra: Suas contribuições na metafísica, na antropologia da mulher, na teoria da pessoa humana, na teoria do Estado e nas relações filosofia-cristianismo são sumamente lúcidas e adiantadas para a sua época. Sou da opinião de que seu pensamento será valorizado com maior amplitude e profundidade no século 21, após a queda do racionalismo ilustrado e das rupturas pós-modernas.
Em Edith Stein, é possível encontrar importantes intuições que colaboram para superar tanto o racionalismo como a desconfiança da razão. Penso, por exemplo, na forma como utiliza o método fenomenológico: sempre fiel ao dado da experiência e sempre aberta a reconhecer que o que aparece revela o ser. Edith Stein, com sua fenomenologia realista, contribui de maneira sumamente relevante para realizar o que Bento XVI chama de "ampliar os horizontes da razão".
ZENIT: As opiniões de Edith Stein sobre a mulher também foram adiantadas com relação à sua época. No entanto, talvez hoje se necessitasse ir além delas para construir um "novo feminismo". O que você acha disso?
Rodrigo Guerra: De fato, o pensamento cristão deve ser concebido como um caminho que é preciso continuar em cada geração. Edith Stein conseguiu desenvolver com grande valentia intelectual uma teoria sobre a pessoa feminina fortemente associada ao modo como ela compreendia a natureza da alma humana e o princípio de individuação. Na atualidade, temos de aprofundar justamente em aspectos como este para mostrar que a diferenciação sexual não é um mero acidente do corpo, mas sim que tem sua raiz mais profunda naquilo que constitui a pessoa humana como pessoa.
O magistério de João Paulo II recolheu justamente estas intuições que é necessário prosseguir através de um trabalho interdisciplinar. Da mesma forma, Stein apreciou a originalidade da feminilidade sem desconhecer os condicionamentos culturais nos quais a sexualidade se encontra submersa em cada época.
Por isso, na antropologia do feminino desenvolvida por Stein se encontra a semente de uma teoria personalista sobre a sexualidade e sobre que o hoje se costuma denominar "gênero". Em momentos como o atual, em que se afirma que a consistência da pessoa é principalmente uma construção cultural, é necessário voltar a autores como Stein para encontrar uma adequada articulação entre natureza e cultura que não negue nenhum desses aspectos, mas que os reconheça em sua unidade e diferença.
ZENIT: Figuras como a de Edith Stein - Santa Benedita da Cruz - são importantes, mas não se encontram facilmente como referências religiosas e culturais na sociedade atual. A que se deve esta situação? É possível corrigi-la?
Rodrigo Guerra: Por um lado, o irracionalismo pós-moderno gerou que certos ambientes acadêmicos, muitos ambientes políticos e inúmeros meios de comunicação banalizassem ao máximo o tema da verdade.
O esforço por voltar às coisas em si e encontrar nelas a verdade - como queria Edith Stein - é sumamente árduo na atualidade. Por isso, é preciso criar novos espaços que deixem que os jovens possam viver uma experiência educativa alegre, que permita a assimilação racional e criativa do pensamento de Edith Stein e de outros autores que fazem parte do legado antigo e contemporâneo do pensamento cristão.
Um dos meus professores - John Crosby - costumava dizer que a communio é o método educativo para fazer uma filosofia que ame a verdade em qualquer lugar onde esta se encontrar. Amar a verdade e manter-se fiel a ela é mais fácil quando isso é feito em comunidade. Por outro lado, é preciso reconhecer que nos falta, como cristãos, uma nova paixão pessoal e comunitária pela verdade.
A insistência de Bento XVI com relação a uma nova racionalidade, mais aberta e comprometida, parece-me que se encontra justamente nesta direção. Acho que por isso é preciso trabalhar para criar comunidades científicas que, nutridas pela experiência cristã, permitam ser ajuda para a nossa frágil razão e para a nossa enfraquecida vontade.
ZENIT: Edith Stein viveu uma amizade desse tipo com Husserl, com Ingarden e com alguns dos seus amigos: é possível hoje encontrar pessoas e comunidades assim?
Rodrigo Guerra: Durante longos anos, filósofos como Angela Ales Bello, Anna Maria Pezzella, Alasdair MacIntyre, Josef Seifert, Walter Redmond, Urbano Ferrer, Juan Caballero Bono, Francisco Javier Sancho, Eduardo González di Pierro, Diego Rosales e outros promoveram o estudo do pensamento de Edith Stein com grande sacrifício e remando contra a maré.
Seu testemunho e exemplo motivaram a criação de círculos de estudo, instituições, congressos e, no fundo, um verdadeiro movimento que reconhece que Edith Stein é um marco intelectual e espiritual para o mundo de hoje. Na Academia Internacional de Filosofia de Liechtenstein e do Chile, na Universidade Lateranense, no Instituto Edith Stein de Granada e no CISAV do México também encontramos este movimento vivo de diversas formas.
ZENIT: Edith Stein fez uma filosofia cristã e deu testemunho cristão de amor à verdade até o sacrifício de sua própria vida. Que lição ela nos dá para o momento atual?
Rodrigo Guerra: Acho que Stein, entre outras coisas, nos ensina que a vida cristã não está separada da vida intelectual e que a atividade intelectual realiza melhor sua vocação quando se deixa provocar pelo acontecimento cristão. Assim como Balthasar dizia que é preciso voltar a fazer "teologia de joelhos", parece-me que os filósofos cristãos também deveriam recuperar a consciência da necessidade de unir a vida espiritual ao trabalho filosófico.
Stein também mostra que a adesão à verdade e a Cristo, quando levada a sério, não pode estar associada à cômoda vida burguesa, mas deve se projetar em compromisso real pelas pessoas, em especial pelas mais vulneráveis e perseguidas. Um personalismo que não passe por um compromisso militante e solidário a favor da dignidade humana e da justiça desaba por falta de congruência.
ZENIT: É possível que o pensamento cristão volte a ter um lugar na cultura contemporânea? Tanto na Europa como na América Latina, as sociedades parecem cada vez mais configurar-se como se Deus não existisse...
Rodrigo Guerra: Quando Husserl morreu, Edith Stein escreveu uma breve reflexão a uma de suas amigas: "Não tenho preocupação alguma pelo meu querido professor (Edmund Husserl). Estive sempre muito longe de pensar que a misericórdia de Deus se reduzisse às fronteiras da Igreja visível. Deus é a verdade. Quem busca a verdade, busca Deus, seja ou não consciente disso".
Este breve texto reflete uma atitude de honesta simpatia por tudo o que é humano, por todas as buscas sinceras da verdade, ainda quando estejam repletas de fragilidade. Da mesma forma, mostra uma confiança grande na graça, que age de maneira misteriosa, mas real em todos.
O pensamento cristão, em particular a filosofia cristã, ressurgirá como uma proposta culturalmente relevante para a Europa e para a América Latina não tanto à base de planos estratégicos, mas quando formemos novas gerações de jovens capazes de reconhecer no seio da modernidade e de sua crise a voz das exigências fundamentais que brotam do coração humano. Estas exigências sempre estão marcadas pela fome de verdade, bondade e beleza.
No final, estas exigências são desejo de que um Deus vivo e encarnado se torne presente e reconstrua a vida, dando sentido a tudo. Todo ser humano busca Cristo, ainda que não o saiba. Toda busca honesta da verdade contribui para que uma nova cultura emirja, uma cultura na qual o cristianismo possa viver com liberdade e, a partir dessa experiência, ofereça o incentivo necessário para pensar a verdade com novos olhos.

Inaugurado Congresso Internacional sobre o Livro da Vida



O Congresso Internacional sobre o Livro da Vida, a autobiografia de Santa Madre Teresa de Jesus, acontece entre 23 e 31 de agosto, em Ávila, Espanha.
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A exposição inaugural tocará ao Arcebispo de Valladolid, D. Ricardo Blázquez, sobre o tema: O Livro da Vida: um exemplo de teologia narrativa.
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O Congresso poderá ser acompanhado pela internet, ao vivo. Os interessados deverão inscrever-se pelo site http://www.citesavila.org/

AO SOPRO DO ESPÍRITO




Alegria infinita
"Pois este poder expansivo que é Deus encontra sua alegria assim a gerar, toda a sua alegria em produzir...
Existe apenas um ato infinito, um fruto infinito que pode satisfazê-lo, pois ele é infinito. A geração do Verbo dá ao Pai uma alegria infinita, a processão do Espírito Santo dá às duas Pessoas, o Pai e o Filho, uma alegria infinita.
E isso não se produz no tempo, num  momento determinado; isso foi sempre, Deus foi sempre assim, ele não começou. A geração do Verbo não começou, a processão do Espírito Santo não começou, a felicidade de Deus não começou: ele foi sempre assim, nós o devemos crer. Ele foi sempre, e sua felicidade é infinita, na medida de sua "obra"; infinita, porque sua geração e essa processão são infinitas também, elas não têm limites, elas não vão cessar. Deus gerará sempre, o Espírito Santo jorrará sempre, a aspiração de amor jorrará do Pai e do Filho de maneira incessante, sempre, sempre... E Deus é sempre feliz, Deus é infinitamente feliz. Eis aí a felicidade de Deus!
Como é bom para nós, não é mesmo, lançar às vezes um olhar sobre essa felicidade de Deus! Alegria pacífica, alegria triunfante, felicidade que nada esgota, alegria serena... Não há tempestade: a geração, a aspiração não produz tempestade, ela é um efeito da plenitude de Deus, ela não ultrapassa suas forças. Não há que forçar, não há nada a estourar de alguma forma para aspirar o amor, aspirar o Espírito Santo. Não, isso é normal,isso sobe. 
Eis a felicidade de Deus, felicidade infinita que devemos considerar e procurar opor a todas as nossas mudanças, a todos os desconcertos do mundo, a todas as ondas do pessimismo que sentimos diante das infelicidades que nos ameaçam ou que já chegaram até nós. Dizer: "Deus é feliz!" Este oceano, este braseiro infinito que é Deus, nós podemos contemplá-lo, nós somos destinados a unir-nos a ele: é a nossa pátria."

Este é um trecho do livro, AO SOPRO DO ESPÍRITO - oração e ação, de nosso irmão carmelita, Frei Maria-Eugênio do Menino Jesus, publicado pela Paulus.

PEQUENOS TRATADOS ESPIRITUAIS DE SÃO JOÃO DA CRUZ

GRAUS DE PERFEIÇAO
1. Por nada deste mundo cometer pecado, nem mesmo venial com plena advertência, nem imperfeição conhecida.
2. Procurar andar sempre na presença de Deus, real, imaginária ou unitiva, segundo se coadune com as obras que está fazendo.

[Próprios do Código de Baeza]
3. Nada fazer nem dizer coisa de importância, que Cristo não pudesse fazer ou dizer se estivesse no estado em que me encontro e tivesse a idade e a saúde que eu tenho.
            4. Procure em todas as coisas a maior honra e glória de Deus.
            5. Por nenhuma ocupação deixar a oração mental que é o sustento da alma.
6. Não omitir o exame de consciência, sob pretexto de ocupações, e, por cada falta cometida, fazer alguma penitência.
7. Ter grande arrependimento por qualquer tempo não aproveitado ou que se lhe escapa sem amar a Deus.
8. Em todas as coisas, altas e baixas, tenha a Deus por fim, pois de outro modo não crescerá em perfeição e mérito.
9. Nunca falte à oração e quando experimentar aridez e dificuldade, por isso mesmo persevere nela porque Deus quer muitas vezes ver o que há em sua alma.- e iss2-não se prova na facilidade e no gosto.
10. Do céu e da terra sempre o mais baixo e o lugar e o ofício mais ínfimo.
11. Nunca se intrometa naquilo de que não te encarregaram, nem discuta sobre alguma coisa, ainda que esteja com a razão. E, no que lhe for ordenado, se lhe derem a unha (como se costuma dizer) não queira tomar também a mão, pois alguns, nisto se enganam, imaginando que têm obrigação de fazer aquilo que, bem examinado, nada os obriga.
12. Das coisas alheias não se ocupe, sejam elas boas ou más, porque além do perigo que há de pecar, essa ocupação é causa I. de distrações e amesquinha o espírito.
13. Procure sempre confessar-se com profundo conhecimento de sua miséria e com sinceridade cristalina.
14. Ainda que as coisas de sua obrigação e ofício se lhe tomem dificultosas e enfadonhas, nem por isso desanime, porque não há de ser sempre assim, e Deus, que experimenta a alma simulando trabalho no preceito ", dai a pouco lhe fará sentir o bem e o lucro.

10. é causa] ms. escusa. 11. m. S1 93,20.

15. Lembre-se sempre de que tudo quanto passar por si, seja próspero ou adverso, vem de Deus, para que assim nem num se ensoberbeça nem no outro desanime.
16. Recorde-se sempre de que não veio senão para ser santo e assim não consinta que reine em sua alma algo que não leve à santidade.
17. Seja sempre mais amigo de dar prazer aos outros do que a si mesmo e, assim, com relação ao próximo, não terá inveja nem predomínio. Entenda-se, porém, que isso se refere ao que for segundo a perfeição, porque Deus muito se aborrece com os que não antepõem o que lhe agrada ao beneplácito dos homens.
Soli Deo honor et gloria

[d] [Propriedades do Pássaro Solitário]
"Sei que o Santo Pai Fr. João da Cruz escreveu os livros a que se refere a pergunta em questão, dos quais me foi dado manusear alguns dos cadernos originais, em Granada, e tenho certeza de que são da sua auto­ria; vi, também, outro pequeno tratado composto por ele, intitulado:
"Propriedade do Pássaro Solitário", onde, dirigindo-se aos espirituais, explicava como a alma, no caminho da perfeição, há de anelar pelo céu e tê-lo sempre presente" (ISABEL DA ENCARNAÇAO: Declaração autógrafa, Arquivo das Carmelitas Descalças de Jaén, f. [7]").

[e] [pequeno Tratado sobre a Fé]
"Esta testemunha teve ocasião de ver um pequeno tratado escrito de próprio punho pelo servo de Deus que o compôs a pedido de certas religiosas chamadas as de Armenía, - no qual discorria sobre a virtude da fé, de modo sublime" (LUÍS DE s. JERONIMO, Ms. Vaticano, proc. aposto de Baeza, Sig 51, f. 60).

[f] [Os primeiros comentários avulsos sobre o "Cântico"
Antes que o "Cântico espiritual" se cristalizasse no comentário extenso e orgânico que hoje conhecemos, deve ter passado por um período de comentários avulsos e de circunstâncias, relativas a uma ou a outra de suas estrofes, e que mais tarde teriam sido incorporados ao tratado geral. Possuímos indícios da existência de tais fragmentos].
"Em nossas religiosas de Ocaña há uma pequena folha em 89 do 'Cântico' do Santo que explica o verso: A ceia que recreia e enamora. Têm-no por original e quero crer que o seja como esses de Madri. Existe também outra, em casa de uma senhora a que chamam 'A surda do Tineo', que segundo dizem se refere à primeira canção".
"Na Peñuela há uma folha em 89 tida por original de nosso Santo Pai. É a explicação daquele verso do seu 'Cântico': Ali lhe prometi ser sua esposa. Duvido se coincide com as 4 de Madri".
"No convento de religiosas de S. Clemente se encontram dois fragmentos do original do 'Cântico' de nosso Santo Pai, não sei se serão da mesma espécie do nosso convento de Madri".
"Em nossos conventos de Daimiel, de religiosos e religiosas, há três folhas em 89 do 'Cântico' de nosso Santo Pai, veneradas como originais. Creio que são como as de Madri" (ANDRÉ DA ENCARNAÇAO, Memórias Históricas, letra C, n. 29, 34, 57, 59. Ms. 13.482. BNM, f. 35M).

[g] [Sobre a História e Milagres de Nossa Senhora da Caridade e do Santo Cristo de Guadalcázar
Tratado que foi perdido e que, segundo uns, teria sido escrito em Guadalcázar em 1586, e, segundo outros, na Peñuela, pouco antes de sua morte, no ano de 1591].
"Chegando o varão do Senhor certo dia em Guadalcázar foi acometido de febre e de uma dor de lado, muito forte... Na convalescença dessa enfermidade,
- parece que o Santo escreveu aqui em Guadalcázar a história de Nossa Senhora da Caridade e do Santo Cristo de Guadalcázar com seus milagres.
Este tratado se perdeu apesar das cuidadosas buscas de D. Luís de Córdoba, bispo de Málaga, que tinha um túmulo reservado na igreja dessas sagradas imagens e das diligências que pessoalmente empreguei, a seu pedido, quando assisti às informações para o processo do Santo [1616-1618], a história de Nossa Senhora da Caridade e do Santo Cristo de Guadalcázar, com seus milagres.
"...Aconteceu vir a Peñuela, onde, estando com grande edificação e recolhimento e escrevendo um livro sobre os milagres das imagens de Guadalcázar (que, se não se perdesse, teria sido de grande proveito, pois tratava de como os milagres podiam ser falsos ou verdadeiros e falava acerca do espírito verdadeiro e do falso. Um padre que teve ocasião de ler alguns cadernos originais deste livro trata-se de Fr. Alonso da Mãe de Deus, natural de Linares - me disse ser coisa admirável), digo que encontrando-se na Peñuela foi acometido de umas terçãzinhas..." (Declaração de AGOSTINHO DE SAO JOSÉ, súdito do Santo em Granada: Ms. 8568, BNM, f. 291').

[h] [Censura e parecer sobre o Espírito e o modo de proceder na oração de uma carmelita descalça
Provavelmente em Segóvia entre os anos 1588-1589. Chegou até nós, através do seguinte testemunho]:
"... A uma religiosa dada à oração, sem base de humildade e animada de desejos curiosos de penetrar grandes segredos do espírito, saiu-lhe o dem6nio ao encalço simulando efeitos de bom espírito, tanto de suaves sentimentos como de revelações, e isso pelo caminho da fraude, com que costuma ter êxito entre os poucos humildes e nada discretos. E tão cauteloso an­dava ele em encobrir o deletério embuste, que, falando essa religiosa acerca de seu espírito e oração com vá­rios letrados de diferentes ordens, todos o tiveram por bom. Contudo, o venerável Pe. Fr. Nicolau de Jesus Maria... então prelado superior de todos os descalços..., não acabava de assegurar-se do caminho dessa religiosa...; para examiná-lo com mais cuidado, ordenou-lhe que escrevesse sobre a sua oração e os efeitos que produzia. Entregou depois esse papel ao Pai Fr. João da Cruz, que na ocasião era primeiro definidor da Ordem, pela grande segurança que seu espírito lhe inspirava e por sabê-lo muito esclarecido por Deus em coisas deste gênero; pediu-lhe, então, que lesse atentamente aquela relação e colocasse no rodapé da folha o seu parecer. Lendo nosso venerável Pai o escrito, percebeu logo de que foco procedia aquela luz e deu sua opinião com palavras tão proveitosas e substanciais que bem revelam quão esclarecido estava por Deus para discernir entre a verdadeira e a falsa luz.
E pela luz que tais palavras podem comunicar aos espirituais, pareceu-me bem referi-las aqui em sua pureza, e são as seguintes:
No comportamento afetivo desta alma parece-me haver defeitos que impedem um parecer favorável acerca do espírito que a anima.
O primeiro é que se nota nela muita avidez de propriedade, ao passo que o espírito verdadeiro se caracteriza sempre por grande desnudez no apetite.
O segundo, que tem excessiva segurança e pouco receio de errar, interiormente, sendo que o espírito de Deus nunca anda sem ele, para proteger a alma contra o mal, segundo diz o sábio (cf. Pr 15,27).
O terceiro, que parece ter a preocupação de procurar persuadir a todos o que creiam ser muito bom tudo quanto se passa nela, enquanto o verdadeiro espírito procura, ao invés, que todos o tenham em pouco e o depreciem, fazendo ele próprio o mesmo.
O quarto e principal, é que, nesta maneira de agir, não se notam efeitos de humildade; ora, quando as mercês são verdadeiras - consoante ela aqui o afirma - ordinariamente nunca se comunicam à alma sem primeiro desfazê-la e aniquilá-la em abatimento interior de humildade. E, caso houvesse experimentado este efeito, ela não teria deixado de anotá-lo aqui, escrevendo algo e até estendendo-se bastante sobre isso; porque a primeira coisa que ocorre à alma expressar e ter em grande apreço são os efeitos de humildade certamente tão notórios que não é possível dissimulá-los. E ainda que não costumem aparecer tão claramente em todas as apreensões de Deus, nestas, que ela aqui denomina união, estão sempre presentes: A humilhação precede a glória (Pr 18,12), e Foi bom para mim ser humilhado (Sl 118,71).
O quinto, que o estilo e a linguagem empregados não são próprios do espírito que ela pretende aqui significar, porquanto o mesmo espírito sugere estilo mais simples, desprovido de afetação e de exageros, segundo notamos neste. E tudo quanto declara ter dito a Deus

e Deus a ela, parece disparate.
O que eu aconselharia é que não mandem nem permitam escrever coisa alguma a esse respeito, nem o confessor mostre complacência em ouvi-Ia; ao contrário, procure dar pouco apreço e atalhar tais confidências; além disso, submetam-na à prova no exercício das virtudes, com todo rigor, principalmente no desprezo, humildade e obediência; e no som produzido pelo toque manifestar-se-á a brandura da alma causada por tantas mercês. E as provas hão de ser boas, porque demônio algum deixará de sofrer algo a troco de manter a sua honra" (QUlROGA, p. 281-284)."

12. Como o leitor terá notado, não Incluímos entre os "pequenos tratados espirituais" do Santo os A!1tsos para depois de Professos, editados com a primeira Instrução de Noviços dos Carmelitas Descalços (Madri 1591). Pessoalmente, estamos convictos da sua autenticidade sanjuanista e cremos havê-la provado e defendido em várias ocasiões, aduzindo numerosas e abalizadas razões. Sabemos, entretanto, que outros estudiosos do Santo não pensam do mesmo modo e lhes respeitamos as opiniões. Em atenção a eles, não queremos assumir a responsabilidade de Incluir, por iniciativa própria, a referida pequena obra no corpo dos escritos comumente atribuídos a São João da Cruz. Publicamo-la em apêndice, no fim do volume. Do mesmo modo. não inserimos em nossa edição a Oração à Virgem, que durante algum tempo foi atribuída ao Santo, mas que o Pe. Silvério excluiu do canon sanjuanista. Quanto ao chamado Autógrafo de Segóvia, é claro que Dia pode figurar entre as obras de São João da Cruz, pois, como é sabido, trata-se Dia de um escrito de sua autoria e sim de uma cópia tirada por ele de um fragmento da autobiografia da Madre Catarina de Jesus (Godinez-Sandoval), e, mesmo sob o aspecto grafológico e ortográfico, seu valor é bastante relativo, precisamente por tratar.se de uma cópia e não de escrito pessoal autônomo e espontâneo.
A Virgem Maria em nossa vida

Incluídos por graça de Deus entre os “irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria”, pertencemos a uma família que se consagra ao seu amor e culto e que caminha para a plenitude da caridade sob o influxo vital de uma íntima comunhão com a Mãe de Deus. Esta comunhão penetra a vida comum e marca com peculiar cunho mariano o espírito de oração e contemplação, o apostolado em todas as suas manifestações e a própria abnegação evangélica.
Constituições 47


O Carmelo é todo mariano. Em Maria, cada membro da Ordem encontra o modelo de escuta filial do Pai por meio de Cristo, no Espírito Santo. Aprende a viver a dimensão contemplativa que deve desenvolver como sentido da própria vida: encontrar Deus presente na realidade, renovando continuamente a aliança com Ele e vivendo à sua luz.

Santa Teresinha

Estava profundamente enraizada em sua vida a devoção a Maria, por isso, a amava com grande ternura.
Diz: “... A Santíssima Virgem deu-me a perceber que foi ela realmente que sorria para mim, e quem me curara. Compreendi que velava por mim, e que eu era sua filha, e por isso não podia dar outro nome a não ser o de Mamã, que me parecia mais afetuoso do que o de Mãe...” (Ma 158).
Todo seu amor pela Virgem se acha resumido em sua composição poética entitulada ‘Porque te amo, ó Maria’.


Quisera cantar, Maria, porque te amo.
Porque, ao teu nome, exulta meu coração
E porque, ao pensar em tua glória suprema,
Minha alma não sente temor algum...

Tu me fazes sentir que não é impossível
Os teus passos seguir, Rainha dos eleitos,
Pois o trilho do céu nos tornaste visível,
Vivendo cada dia as mais simples virtudes.

(Poesia 54,1.6)

Beata Elisabete da Trindade

Na Virgem do Carmo via e venerava de a Virgem da Encarnação, toda recolhida em seu mistério. Daí extraía estímulo e exemplo para sua vida carmelitana. Neste sentido o Carmelo pode ser designado com totus marianus – que irradia uma luz mariana com caráter místico, profético e apostólico.




Em louvor à Rainha do Carmelo

Tuas duas filhas contigo,
boa Madre,
Queriam festejar a Rainha do Carmelo,
Devotando-lhe a nossa vida inteira,
De nossa Rainha Imaculada
Seremos louvores de amor.
Ó nossa Mãe Bem-amada,
Guardai-nos fiéis sempre.
Logo na Pátria,
Ó Mãe, acolhei-nos,
Na eterna vida
Colocai-nos perto de vós.

(Poesia 103)




Santa Teresa de Jesus dos Andes

A presença da Virgem Maria na vida de Teresa dos Andes se dá desde sua tenra idade. Maria vai lhe fazer companhia durante toda sua vida. Na primeira etapa de sua vida compreendida desde seu nascimento até a sua Primeira Comunhão em 1910 ela mesma resume sua devoção à Virgem da seguinte forma: Desde os sete anos, mais ou menos, nasceu em minha alma uma grande devoção à minha Mãe, a Santíssima Virgem. Lucho me deu esta devoção, com a qual estive e estarei, como espero, até minha morte”.(Diário 5).
Ela toma a Virgem por companhia em todos os momentos de sua vida, também durante as “noites escuras”, onde encontra sempre na mulhermais santa” de todas, fortaleza e consolo.
Esta relação para com a Virgem está bem conforme o espírito do Carmelo Teresiano, onde Maria é tida e experienciada no decorrer da história como Mãe e Irmã, relação essa que conduz a uma maior intimidade com Deus.






Meu espelho há de ser Maria, sendo que sou sua filha devo assemelhar-me a ela
e assim assemelhar-me-ei a Jesus”.

(Diário 15)




Santa Madre Teresa de Jesus

A alma profundamente mariana de Teresa de Jesus se forja de forma progressiva, desde os primeiros anos da infância, no seio familiar. Ela mesma nos diz que com a idade de seis anos sua mãe tinha o cuidado especial de que fosse devota da Virgem. Também nos conta como desde muito menina procurava a solidão para praticar suas devoções, que eram muitas, em especial o rosário, de quem minha mãe era muito devota, e assim nos fazia sê-lo” (V 1,6).
Quando lhe morre a mãe, Dona Beatriz de Ahumada, cai em conta do que havia perdido e acorre à Virgem da Caridade na Ermida de São Lázaro para pedir-lhe que seja ela sua Mãe. Esta estreita relação com a Virgem se manifesta durante toda sua vida espiritual. no Carmelo, Teresa se destacou como uma carmelita, entre muitas outras coisas espirituais, por seu amor filial à Virgem Mãe de Deus, de Cristo, da Igreja e do Carmelo.
O Marianismo de Teresa de Jesus é tradicional, familiar, novo por seu caráter pessoal, perene e sempre atual, por estar baseado nos princípios essenciais da Mariologia, como a Maternidade Divina e Virginal, a presença de Cristo e do Espírito Santo, a maternidade espiritual de todos os homens, a mediação e co-redenção.


“E nós nos alegramos de poder em algo servir à nossa Mãe, Senhora e Patrona... E pouco a pouco se vão fazendo coisas em honra desta gloriosa Virgem e seu Filho. Seja para sempre louvado,
amém, amém!”.

(Fundações 29,28)


Santo Padre João da Cruz

São João da Cruz, desde criança, recebeu na família, sobretudo por parte de sua mãe Catalina Alvarez, uma formação profundamente religiosa em torno de Maria. Era o mais comum naquele tempo, dentro da piedade cristã, a devoção à Virgem.Tudo o que viveu e praticou desde a tenra idade passa a ser para o Santo uma experiência de vida espiritual extraordinária em seu caminho. Sua devoção intensa, sincera e profunda a Maria desemboca numa vivência espiritual que, ao seu modo, o Místico Doutor transmite em seu estilo de vida.
As reflexões que faz sobre alguns temas marianos nascem de sua singular vivência espiritual, e dos conhecimentos bíblicos e teológicos acumulados em seus estudos na Universidade de Salamanca.



Oração da Alma enamorada

Meus sãos os céus e minha é a terra, minhas são as gentes, os justos são meus e meus os pecadores; os anjos sãos meus e a Mãe de Deus e todas as coisas sãos minhas, e Deus mesmo é meu e para mim, porque Cristo é meu e todo para mim”. (Ditos 26)


Sobre a Encarnação

Então chamou-se um arcanjo
Que São Gabriel se dizia,
Enviou-o a uma donzela
Que se chamava Maria
De cujo consentimento
O mistério dependia

E ficou o Verbo Encarnado
Nas entranhas de Maria
E o que então tinha Pai,
Mãe também teria,
Embora não como outra
Que de varão concebia,
Porque das entranhas dela
Sua carne recebia;
Pelo qual Filho de Deus
E do Homem se dizia.

(Romance 8)

Frei Ronan do Sagrado Coração de Jesus,ocd



FLOS Carmeli,
vitis florigera,
splendor caeli,
virgo puerpera
singularis.


Mater mitis
sed viri nescia
Carmelitis
esto propitia
stella maris.


Radix Iesse
germinans flosculum
nos ad esse
tecum in saeculum
patiaris.


Inter spinas
quae crescis lilium
serva puras
mentes fragilium
tutelaris.


Armatura
fortis pugnantium
furunt bella
tende praesidium
scapularis.


Per incerta
prudens consilium
per adversa
iuge solatium
largiaris.


Mater dulcis
Carmeli domina,
plebem tuam
reple laetitia
qua bearis.


Paradisi
clavis et ianua,
fac nos duci
quo, Mater, gloria
coronaris. Amen