O Natal no Carmelo Descalço
O Natal é uma data muito expressiva na vida dos santos carmelitas: Teresa de Jesus, São João da Cruz, Teresinha do Menino Jesus etc.. A natividade de Jesus está na fonte do nosso carisma, na meditação da Encarnação do Verbo. O amor a sagrada Humanidade de Cristo é uma herança espiritual deixada por Santa Teresa de Jesus. Ela enriquecia o seu interior com a meditação da Paixão do Senhor, com o culto da Eucaristia, e com a alegre celebração dos mistérios da Infância de Jesus.  Santa Teresa dizia em uma de suas poesias que no natal uma criança se abaixou para nos redimir, desceu neste claustro: 

“Hoje nos vem redimir
Ele é nosso parente
é o Deus Onipotente”
(Poesia 12)
Esta poesia é um canto a humanidade de Cristo que se tornou realidade em uma criança. É um ato de devoção a Maria e a José. Esta tradição se conserva até hoje nos nossos conventos. Nós vivemos esta tradição carmelitana, mas não a conhecemos muito. A datação é incerta, mas podemos balizar o seu início no século XVII, tempo no qual essa manifestação natalícia começa a ser codificada e propagada. Encontramos coleções de poesias natalícias nos arquivos da nossa Ordem.
Aproximemo–nos com os nossos Santos da tradição do Carmelo, para celebrar a centralidade do mistério da Encarnação, juntamente com Maria e José. Rendamos culto ao Menino Jesus, nascido “entre alguns animais que ali se encontravam. A humanidade eleva com alegria o canto sagrado dos anjos ‘Glória a Deus nas alturas”.

Festejemos os esponsais que entre aqueles dois havia (Cristo e a humanidade). Deus, porém, no presépio ali chorava e gemia. O pranto do homem em Deus e no homem a alegria. (Romances Trinitários e Cristológicos n.º 9 de São João da Cruz)

Deus de tal forma se aproximou do homem e o homem também é chamado a aproximar-se de Deus. Chamado a viver a sua vida divina. O Filho de Deus se fez homem a fim de que o homem se torne também filho de Deus. Renovemos neste Natal nossa fé no Deus encarnado, nos unamos a Ele para elevarmos nossa humanidade a dignidade de filhos amados...

Um Feliz Natal a todos!

Convivência Vocacional


De 15 a 18 de dezembro tivemos a semana de convivência vocacional no Convento Nossa Senhora do Carmo em Caratinga-MG. Participaram do encontro jovens dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Ao todo 15 jovens participaram do encontro dentre os quais 10 ingressarão no Aspirantado em 2011.


Durante a semana dirigiram alguns temas aos vocacionados frei Jorge, frei George, frei Alzinir, frei Francisco Sales e frei Wilson. Frei Cleber orientou o retiro dos jovens no terceiro dia do encontro vocacional.
RETIRO 2010


Depois de uma semana de retiro (06 a 12 de dezembro) na Serra da Piedade, na casa das irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade,...


...os frades professos temporários renovaram sua consagração celebrando a solenidade de são João da Cruz juntamente com suas irmãs monjas carmelitas do mosteiro Nossa Senhora Aparecida em Belo Horizonte-MG.

Renovação dos votos


A missa de renovação dos votos foi presidida pelo nosso provincial frei Alzinir...


Frei Manoel da Imaculada e Santo Agostinho, neste mesmo dia, em Piedade de Caratinga-MG, emitiu os primeiros votos religiosos...

Primeira profissão religiosa




O dia 15 foi marcado pelo início do noviciado dos freis Washington, Emanuel, Helder e José Augusto...




... por quem suplicamos a Deus lhe conceder a perseverança.
















São João da Cruz:
Mistagogo do homem
e da mulher
à procura do Deus verdadeiro
     
 
João da Cruz: um homem que orienta a busca do Deus verdadeiro para o homem e a mulher de hoje

         Um homem que viveu há quase meio milênio, em que pode contribuir para as pessoas do terceiro milênio?
         Sem dúvida, São João da Cruz ilumina a busca de Deus, do Deus verdadeiro, que realmente preenche o vazio e restitui O SENTIDO à existência humana.

A atualidade do seu pensamento está na resposta satisfatória que ele consegue dar às angústias dos homens. Tenta penetrar o coração do homem e acalmá-lo nas suas revoltas, apresentando o ideal da unidade: DEUS. A situação “do homem”, de São João da Cruz, é a de homem de sempre: a busca do Absoluto, o ideal da perfeição, da libertação do nada, o encontro com o TUDO (Patrício Sciadini – OCD).

         João da Cruz vem nos dizer que somente Deus pode plenificar o coração do homem. Ele é uma pessoa que faz a experiência do Absoluto em sua própria vida e, como um grande Mistagogo, consegue, a partir da própria experiência, nos conduzir seguramente a Deus. A busca de Deus é também busca de unidade interior. Porém, esta é uma busca árdua, difícil que exige força de vontade e empenho. É a ascese de que nos fala Platão no ilustre “Mito da Caverna”, referindo-se à alma que, saindo da caverna das suas sombras, quer contemplar não mais apenas as sombras, mas as realidades em si mesmas; quer não apenas reflexos de luz, mas, ao contrário, quer poder contemplar o próprio sol. Aquele que sai da caverna, num primeiro impacto com a claridade pode querer deixar a luta iniciada e permanecer nas sombras, temendo o enorme grau de esforço que será necessário empreender para acostumar-se definitivamente com a luz e, um dia finalmente, poder suportar olhar para o sol. Mas o desejo de “plenitude” o impulsionará em sua busca e não o deixará desanimar, pois o ser humano tem sede de infinito, tem sede de Deus.
         João da Cruz nos ensina com a própria experiência que vale a pena a busca apesar das dificuldades. É necessário ter claro diante dos olhos o ideal, a meta e investir tudo para atingi-la. Ele mesmo era um homem feliz, porque sabia onde queria chegar: tinha clareza de objetivos. Ele não vive simplesmente por acaso, mas vive e sabe porquê de seu viver. Mesmo em meio às adversidades, aos contrastes sombrios e turbulentos da vida, ele não desanima. Continua caminhando tranqüilo e sereno porque as dificuldades não lhe ofuscam a visão, e seu ideal continua visível aos olhos. Mesmo nas “noites” Deus continua resplandecendo em sua vida e na vida de todo homem, mesmo se, aparentemente dê a sensação de estar ausente.

A dificuldade da busca e a certeza do encontro

         No cárcere, em Toledo, na experiência dura da incompreensão de seus confrades, na experiência do aparente silêncio e abandono de Deus, João sabe que a ausência é realmente aparente, e a sua se torna uma solidão “povoada” por Deus.
Aquela eterna fonte está escondida,
Mas bem sei onde tem sua guarida,
Mesmo de noite.

Sua origem não a sei, pois não a tem,
Mas sei que toda origem dela vem,
Mesmo de noite.

Sei que não pode haver coisa tão bela,
E que os céus e a terra bebem dela,
Mesmo de noite.

Eu sei que nela o fundo não se pode achar,
E que ninguém pode nela a vau passar,
Mesmo de noite.

Sua claridade nunca é obscurecida,
E sei que toda luz dela é nascida,
Mesmo de noite.

Sei que tão caudalosas são suas correntes,
Que céus e infernos regam, e as gentes,
Mesmo de noite.

A corrente que desta fonte vem,
É forte e poderosa, eu sei-o bem,
Mesmo de noite.

A corrente que destas duas procede,
Sei que nenhuma delas a precede,
Mesmo de noite.

Aquela eterna fonte está escondida,
Neste pão vivo para dar-nos vida,
Mesmo de noite.

De lá está chamando as criaturas,
Que nela se saciam às escuras,
Mesmo de noite.

Aquela viva fonte que desejo,
Neste pão de vida já a vejo,
Mesmo de noite.
         
João permanece fiel a Deus e o deseja, o busca porque é convicto de sua presença. Ele SABE que mesmo na escuridão pode confiar que a sua fonte está presente e que ele pode dela beber e saciar-se abundantemente. É o que lhe dá sustento na caminhada.

A Pós-Modernidade e a “privatização do divino”

         A busca do transcendente excessivamente valorizada na Pós-Modernidade é uma busca em muitos aspectos egoísta, reflexo da atitude de um mundo onde o individualismo floresce vicejante no campo da competição pelo poder, pela riqueza e pelo status. Busca-se o privado, aquilo que satisfaz o indivíduo sem levar em conta o coletivo, a comunidade.

“A individuação de Deus na experiência privada da vivência da fé conduz ao desconhecimento do outro, porque satisfaz por si mesma... Uma atitude coerente com a busca da felicidade pessoal, recusa de sacrifícios pelos outros, liberação das imposições tradicionais, hedonismo no plano afetivo... A complexidade e diversificação deste espaço multifacetado para a vivência da fé possibilita que o indivíduo, nas suas reações, tenha como centro a si mesmo, caracterizando o individualismo”. (MOL, Joaquim Giovanni. In: Individualismo cultural e vivência da fé – dissertação de mestrado).

“O excessivo sucesso do esoterismo, da parapsicologia, mentalização psicológica, Yoga, para chegar à paz interior não é outra coisa que a tentativa de substituir a Deus. Estes meios, todavia, não são capazes de reunificar o homem, de alcançar-lhe a harmonia na qual foi criado e para a qual tende após a Redenção. O menor dos danos que essas pseudo-doutrinas podem gerar é a desembocadura em um naturalismo puro, que não liberta de nossas escravidões e limitações. O homem novo não é construído em cima de sua própria natureza, em cima de seu próprio barro. Ele nasce da postura de permanecer como objeto a ser remido por Deus” (Patrício Sciadini – OCD).

João da Cruz: abertura a Deus que não exclui o próximo

         São João da Cruz não se fecha em si mesmo na sua experiência de Deus. A sua é uma experiência relacional com Deus que se prolonga no outro. A sua não é uma busca egoísta de Deus para aprisioná-lo em si mesmo. Ao contrário, ele se torna mistagogo. Nos ajuda a fazermos também nós o nosso encontro com o Deus verdadeiro. Ele é uma pessoa feliz, realizada, que sente a necessidade de comunicar sua experiência, deixar que ela transborde para que outros possam se beneficiar.
         O Deus ao qual João nos conduz é um Deus próximo. Está tão perto de nós, que habita dentro de nós e nos leva para dentro de si. Contudo, não nos aprisiona, nem nos escraviza, mas nos propõe uma relação de liberdade. Precisamos descer ao fundo de nós mesmos e encontrá-lo. Ele está escondido em nosso ser. Essa busca do divino no mundo atual, mostra justamente esta realidade: O Amado atrai como um ímã, quer ser buscado e quer ser encontrado.

Onde é que te escondeste,
Amado, e me deixaste com gemido?
Como o cervo, fugiste,
Havendo-me ferido;
Saí, por ti clamando, e eras já ido.

Pastores que subirdes
Além, pelas malhadas, ao Outeiro,
Se, por ventura virdes
Aquele a quem mais quero,
Dizei-lhe que adoeço, peno e morro.
Ó bosques e espessuras,
Plantados pela mão de meu Amado.
Ó prado de verduras,
De flores esmaltado,
Dizei-me se por vós ele há passado.

Extingue os meus anseios
Porque ninguém os pode desfazer
E vejam-te meus olhos
Pois deles és a luz,
E para ti somente os quero ter.

(Cântico Espiritual – Granada 1584 – 1586)

         João orienta a busca do Deus que ele denomina como AMADO. Porém, é preciso silenciar todo em nós para iniciarmos a busca encontrarmos Deus.
         Deus sabe que o coração do ser humano tem sede de infinito, tem sede de beber da fonte na qual tem sua origem. O coração humano vive na procura nostálgica de sua origem e estará “inquieto e insatisfeito enquanto não repousar em Deus”.
         O homem e a mulher de hoje procuram Deus e muitas vezes tem a ilusão de o terem encontrado em realidades que não são, de fato orientadas para o DESEJADO, o AMADO, como O chama São João.
         São João da Cruz pode orientar este homem e esta mulher inquietos na busca de Deus.
         Às vezes nos é transmitida uma falsa imagem da figura deste santo, ao ponto de nos parecer inacessível e inatingível. Mas, ao contrário, São João da Cruz é uma pessoa muito próxima de nós. Viveu seu cotidiano buscando, com toda a sua energia a Deus. Também ele experimentou e sentiu o “silêncio de Deus” e dos homens.
         O segredo dele está no fato de ter claro o que realmente queria. Era convicto do amor, da bondade e da presença de Deus. Era convicto de que Deus é fiel e nele se pode confiar e esperar, mesmo de noite. 

Ir. Andréa dos Santos Lourenço
Discípula de Jesus Eucarístico