A Reforma Teresiana
Após a sua formação, aOrdem se expande com a fundação de grande número de mosteiros do ramo masculino e do ramo feminino. Em 1562, Santa Teresa funda um mosteiro em Ávila (Espanha), segundo seu pensamento de fazer aí florescer um ideal carmelitano mais autêntico pela volta ao exercício da contemplação. J. B. Rossi, Superior geral da Ordem, acena esse espírito reformador e encoraja Teresa a fundar outros mosteiros femininos. Também favorece as tentativas de vida interior mais intensa desenvolvidas pelos frades, tanto na Itália quanto na Espanha. Segundo o exemplo da santa, Rossi permite a abertura de dois conventos masculinos de "contemplativos", número que se multiplica em pouco tempo. Em 1568, graças à cooperação de Teresa com João da Cruz, é fundado o primeiro convento dos Descalços. Em 1593, fica constituída a divisão dos carmelitas em Calçados ou da Antiga Observância e em Descalços ou Teresianos. Essa separação, que não impediu uma salutar renovação da própria espiritualidade, estendeu-se até os dias de hoje, cada ramo com um Superior diferente. A obra de Santa Teresa e de São João da Cruz, no campo da espiritualidade carmelitana, encontrou uma correspondência no movimento chamado "da mais estrita observância", que floresceu durante os séculos XVII e XVIII e procurou evitar os efeitos negativos da separação. Philipe Thibault, que viveu com os Descalços, foi o introdutor da Reforma Turonense (iniciada na Província Carmelita de Tourain, França), a partir de 1619. Esta renovou o espírito contemplativo na Ordem pela prática da meditação diária, do silêncio e da mortificação, restaurando-se, assim, a perfeição da vida comunitária. Os séculos XVI e XVIII se caracterizam pela expansão da devoção mariana, das Ordens terceiras e das Confrarias do escapulário. Os conventos e mosteiros se tornam centros de profunda religiosidade. Santa Maria do monte Carmelo: o significado fundamental desse título se resume na expressão da índole mariana do Carmelo. Consta de fato a veneração especial dos carmelitas por Maria. Todos os nossos autores se mostram intimamente convencidos de que a Ordem do Carmo está fundada em honra da Santíssima Virgem, sua singular padroeira. E essa fisionomia mariana era o que mais impressionava antigamente os estranhos. A devoção profunda a Maria foi o distintivo, já desde o inicio, publicamente reconhecido, da Ordem Carmelitana, o que foi motivo de benevolência, por parte de papas, reis e príncipes que a queriam muito. Muitos entraram na Ordem por essa especialidade mariana, inclusive Santos como o Beato Nuno, São João da Cruz, etc. Mas foi motivo de mal-querer, por parte de outros; esses diziam que os Carmelitas abusavam desse titulo para ter maior fama junto ao povo. Historicamente falando, o titulo de "Irmãos da Virgem" é preciso buscá-lo na antiga capela consagrada a Maria, no cume do Monte Carmelo. Essa capela, na qual se reuniam os ermitões do Monte Carmelo, foi a origem do titulo da Ordem, assim como o foi de sua vocação e destino. Testemunhos dela temos na célebre Constituição de meados do século XIII, na carta de São Cirilo, nos relatos dos peregrinos da Terra Santa e em outros documentos, como a "Descrição da Terra Santa", de Filipino (1283-1291). O símbolo da agregação mariana, sinal de consagração à Mãe de Deus, a grande confiança em Maria, são alguns motivos pelos quais levamos o escapulário. Entre tantas tentativas de reforma na Ordem do Carmelo, a mais definitiva e eficaz foi a empreendida por Santa Teresa de Jesus, na cidade espanhola de Ávila dos Cavaleiros. O que não conseguiram homens santos e sábios, o conseguiu essa mulher, lutando contra marés, graças à ajuda divina mais que humana. "Esse período de vida é de muito trabalho. Nela se realiza a máxima atividade de que foi capaz. Essa etapa durou vinte anos, desde 1562 até a sua morte". As causas que impulsionaram Santa Teresa a fazer a Reforma eram diversas: o desejo de sua própria perfeição e a salvação das almas; a visão clara da vontade do Senhor, para que isso acontecesse; a manifestação do Geral da Ordem, João Batista Rubeo de Rávena, que trazia autorização do Papa Pio V, para reformar o Carmelo. Santa Teresa havia tomado o hábito carmelitano, no Mosteiro da Encarnação, no dia 2 de novembro de 1536, e não estava contente com o gênero de vida que ali se levava. Havia demasiada relaxação entre as religiosas. Havia, em Salamanca, um jovem freizinho carmelita, que andava dando voltas para entrar na Cartuxa. Chamava-se Fr. João de Yepes. A reformadora se entrevista com ele. Fala-lhe, com entusiasmo, de seus intentos e o convence. Frei João põe só uma condição: que seja logo. Em poucos dias, 28 de novembro de 1568, se abria já, em Duruelo, o primeiro convento de Carmelitas Descalços. Como Prior foi nomeado o Pe. Antônio de Jesus, outra conquista da Madre; e a João da Cruz encarrega da direção dos noviços, embora de momento não tivessem nenhum... E assim foram colocadas as primeiras pedras da reforma entre os frades. E que reforma! Uma mulher fazendo "as barbas a homens estudados", como dizia mais tarde um frade. "Desde o principio desta reforma e durante o tempo das fundações não lhe faltaram nem conselheiros nem colaboradores. Entre eles, os sacerdotes, religiosos e também leigos". A Teresa reformadora empreende sua obra entre as monjas, graças ao zelo eclesial que vibrava em seu peito. Ela mesma no-lo conta em seu livro Caminho de Perfeição. O propósito da Santa reformadora está, pois, claro: junta as suas monjas, em um pequeno convento, para orar por tantas almas que se perdem e pelos defensores da Igreja e pregadores e estudiosos que a defendem... Quer dizer, um motivo de oração completamente eclesial. O ideal que a Santa buscava na reforma dos freis é mais ou menos semelhante: ter defensores, pregadores e estudiosos da Igreja para a extensão do Reino de Deus e salvação das almas; diretores espirituais de suas Irmãs Carmelitas e, como arma, a oração e intimidade com Deus.

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